Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

21 de janeiro de 2012

Pela janela do décimo andar


Do décimo andar de um hospital, onde fui como acompanhante, olhava eu pela janela e fui absorvido com a seguinte consideração:

O que nos impede de enxergarmos os agravos particulares recorrentes como se estivéssemos olhando para eles do décimo andar de um prédio?

Assim estava entretido por esta questão quando reparei em uma agitação entre motoristas dos carros que trafegavam na rua avistada lá de cima. A julgar pelo dedo levantado e pelos movimentos bruscos de braços e mãos, parecia uma discussão no trânsito – ocorrência tão frequente no ambiente urbano que poderíamos elegê-la como um agravo recorrente.

De onde eu me encontrava, naquela janela do décimo andar, testemunhei aquela ocorrência; sem sentir vestígio algum de ameaça suscitada pelo medo, pois estava protegido nas alturas; e nem a frígida indiferença típica da vertigem produzida pela ilusória posição 'elevada'.

Os instrumentos utilizados – quais sejam as discussões e conflitos – para agravar as nossas condições particulares de vida logram retumbante fracasso se atribuirmos a eles a mesma ordem de grandeza de quando estamos no décimo pavimento de um prédio: tornam-se figuras miudinhas macaqueando gestos e palavras. Por mais que façam, não oferecem a menor ameaça. Portanto, ficamos sem nada a temer... sem absolutamente nada a temer!

É deveras gratificante perceber como a vida corresponde, de forma imediata e elucidativa, em questões cruciais. Se não houve tal correspondência em nossa vida é porque falta, ainda, a investidura crucial na questão que queremos evidenciar.

LibaN RaaCh


"O perigo da vertigem vem da ilusão de que essa sublime posição
seja obra do seu ego personal, vem do erro fatal
de que a pessoa humana tenha creado essa glória
no alto do candelabro ou no cume do monte".

Huberto Rohden
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