Conforme a Luz ganha distância e inclinação, a nossa
sombra aumenta de tamanho. Até o ponto extremo onde ela, a Luz, fica tão
distante que nos resta, apenas, sombra e escuridão.
O que faz a Luz permanecer no alto de nossa cabeça e o
que A faz se distanciar? Por que alguns são mais receptivos à Luz da Verdade
do que outros? Como eu posso me tornar mais receptivo?
Existe uma – e somente uma – Verdade inconsútil e
incorruptível, comum a toda a humanidade, independente de sua condição social,
ou de sua opção em seguir determinado conjunto organizado de crenças?
Em existindo esta Luz da Verdade Única, onde está a ‘pedra
de tropeço’ que restringe a plena assimilação Dela, uma vez que a sua assimilação
parcial tem se mostrado insuficiente na construção e manutenção de uma disposição
interna livre de conflitos, de relações livres de conflitos?
Sabemos que nossas disposições internas entram em
conflito quando o interesse pessoal se depara com alguma contrariedade. Para a eliminação
de todas as contrariedades são necessárias as eliminações de todos os
interesses pessoais – pois não haverá contrariedade se não houver interesse a
ser alcançado. A eliminação de interesses pessoais implica na eliminação da pessoa por trás destes interesses. Eliminar
a minha pessoa, que está por trás dos meus interesses, significa extinguir as
referências sobre as quais foi montada a minha personalidade, extirpar a
individualidade conhecida com o nome adotado em meu nascimento.
É o mesmo que dizer que eu me transformaria em um ente
sem nome. Em um alguém sem nome. Em um ninguém...
Na eliminação do meu sofrimento está implícita a eliminação
daquele que sofre, que sou eu – ou melhor – que é a concepção minha do que seja
este ‘eu’. A eliminação deste ‘eu concebido’ conduz à morte. Esta é a lógica do
suicida, a quem para além do ‘eu concebido’ resta o vácuo onde nenhum elemento
subsiste... nenhuma substância contendo conflito e dor.
É possível existir... na vida... sem ser através deste ‘eu
concebido’ que é a fonte de tantos sofrimentos e dissensões?
Sim. Possível é; porém, seria uma existência fadada ao incomum,
ao ‘sui generis’. Uma existência fora do comum. Neste contexto único, tudo que
se apresentasse ‘dentro do comum’ tornar-se-ia inconsistente e volátil. O volátil
que se desfaz. O que, em nosso mundo, possuiria a característica de não se desfazer, nem mesmo pela ação inexorável do tempo?
Seriam os feitos do Amor... do Amor com letra
maiúscula... que deixariam registros em dimensões não degradáveis.
Este é um Amor fora do comum, fora de concepções comuns,
fora das concepções aceitas como normais, pois as aceitas como normais contém
uma noção bastante vaga de ‘união estável’, enquanto a Verdade sobre este Amor –
de dimensões não degradáveis – adota, como princípio, a estabilidade de uma ‘União’
para além desta mera noção genérica de amorzinho.
A dimensão não degradável está inacessível a elementos
que sofrem a ação corrosiva e deterioradora do tempo, como são os elementos que
compõem a estrutura das concepções sobre a minha pessoa. Enquanto estes elementos
persistirem em existir, estarei proibido de entrar nesta dimensão.
Rompe esta proibição quem se cristaliza através do suave desvanecer das concepções sobre si mesmo, sobre quem se acredita como sendo este ‘eu’.
Se a ruptura for brusca, o desequilíbrio se instauraria. Portanto, que seja
suave... um desvanecer imperceptível de tão suave...
Posso não ter obtido, ainda, a suavidade e a cristalização necessárias ao
ingresso definitivo naquela dimensão onde se manifesta a Luz da Verdade... O
Amor de verdade... mas tenho a convicção de seguir dia-a-dia, noite após noite,
dia-e-noite, em compasso irretrocedível!
LibaN RaaCh