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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

30 de janeiro de 2012

A compreensão do "eu"

Para a compreensão do "eu", se faz necessário a presença de tremenda energia, energia que só pode ser manifesta através da aplicação de toda atenção, sem que ocorra nenhuma forma de distração, nenhuma forma de desatenção. O "eu", com sua complexa estrutura, só pode ser compreendido quando há atenção completa. Quando ocorre a dispersão, quando ocorre a desatenção, a visão se torna fragmentada e, portanto, incapaz de compreensão que gera a mutação imediata. A compreensão só pode ocorrer quando cessa todo o movimento da mente. 

Para a compreensão do "eu", se faz necessário, de início, perceber a verdade relativa de cada movimento do pensamento e sentimento, assim como sua consequente manifestação de desconforto corporal. Isso só é possível quando em silêncio, em quietude e quando não há a identificação com o constante e imperioso impulso para a fuga do que está ocorrendo, através de algum fator externo.  A compreensão do "eu" só pode ocorrer quando a mente já não está se movendo na ponte do tempo — passado/futuro —, em nenhuma direção determinada, uma vez que, pelo estado de atenção, todas as sugestões de direção são compreendidas e, por serem compreendidas, não se dá o processo de identificação com seus resultantes conflitos que dão continuidade a novas camadas do "eu". Isso só ocorre quando se dá uma escuta atenta, minuciosa e destemida, isenta de qualquer tipo de resistência, escolha ou julgamento ao que se apresenta, momento a momento. Isso precisa ficar bem claro uma vez que a resistência gera a dispersão da energia necessária para o estado de profunda atenção. Qualquer forma de resistência, inevitavelmente produz conflito, dispersão de energia, dispersão esta que distorce e deteriora a percepção dos fatos e, sem a percepção dos fatos, da-se a continuidade ao passado — com seu imenso arquivo de imagens, conceitos, crenças e idéias — as quais retroalimentam as múltiplas camadas do "eu". 

Para a compreensão dessas múltiplas camadas, é preciso dar a devida escuta ao acelerado e reativo fluxo mental, sem a ocorrência da identificação geradora de conflitos, uma vez que o conflito é o alimento do "eu". Em poucas palavras: observação sem a deterioradora identificação. Observar o fluxo mental, os conflitos, as aflições, as frustrações, as compulsões, as somatizações, o desespero; observar completamente os diversos movimentos do "eu" sem que ocorra a identificação com as constantes sugestões de fuga que resultam em perda de energia que, por sua vez, enfraquece e distorce o poder da observação e escuta. Sem que deixe de ocorrer o processo de dispersão de energia, não há como se dar o desembotamento da mente, de todos os condicionamentos a que foi submetida durante o longo processo de estruturação do "eu". Isso implica num estado de ser que, a primeira vista, pode soar como algo fora da realidade: um estado de observação do fluxo mental — que é pensamento — sem que ocorra a interferência do pensamento nesse estado de observação. Isso implica numa mente atenta sem qualquer tipo de reação; atenção a toda ação egocêntrica geradora de conflito, a qual impede a percepção dos fatos, do real. Sem essa percepção, não há como a mente ser livre da intrincada e deformadora rede psicológica do condicionamento social, a qual tem seus alicerces na inveja, na busca de poder, na avidez e no desejo de reconhecimento social. Sem isso, não há como ocorrer a completa compreensão do "eu" e, sem esta compreensão, não há a mínima possibilidade do homem saber, por experiência direta, o real significado para onde apontam as palavras felicidade e liberdade.
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