Em uma sala de espera, como acontece em tantas salas de
espera espalhadas por prédios construídos pela civilização, estava eu aguardando
a minha vez de ser atendido.
Um casal carrancudo com dois filhos pequenos, dois lindos
gêmeos, inconformado com a demora, recorreu ao responsável pela ordem de
prioridade apelando pela preferência em serem atendidos primeiro em nome dos dois
bebês de colo. Após receberem a notificação de que seriam os próximos, o marido
esbravejou seu descontentamento ao verificar que haviam passado na frente deles
várias pessoas que não pareciam ter nenhuma preferência. Pelo menos, nenhuma
das preferências conhecidas de atendimento prioritário para deficientes,
gestantes, mulheres com criança de colo e idosos.
À parte da queixa dele ter sido legítima, ou não; uma
menininha de uns três anos de idade perambulava pela sala, absorta em seu
universo particular.
Logo após o constrangimento generalizado, que a manifestação
de fúria do marido causou, a menininha – sem a menor cerimônia – aproximou-se
do bebê que estava no colo da mãe revoltada e começou a fazer carinho no
rostinho do bebê, balbuciando sons incompreensíveis. Claro que o bebê,
inicialmente espantado, arriscou um sorriso, mostrando os dois dentinhos
inferiores nascentes. Os pais dos bebês sorriram também, juntamente com a mãe
da menininha – autora desta façanha de transmutação – que havia se aproximado deles
para ficar mais atenta aos movimentos da filha a fim de evitar maiores
constrangimentos.
Em seguida, os bebês foram atendidos.
E o mundo civilizado, dentro daquela sala, recobrou a
primazia da paz... da paz que jamais deveria ter sido soterrada pelas regras
civilizatórias do mundo adulto.
LibaN RaaCh