Dirigindo-me ao encontro entre confrades, numa
quinta-feira chuvosa, final de tarde (mais de sete horas e, ainda, continuava claro
devido ao horário de verão); observei, no banco de trás de um carro à minha
frente, um menino colocar seu catavento pela janela e, hipnotizado pelo giro do
catavento conforme o carro aumentava ou diminuía a velocidade, acompanhar – maravilhado
– cada mudança.
Quantas não foram as mudanças em nossas vidas pelas quais
deixamos de nos maravilharmos pelo simples fato de terem acontecido
desobedientemente?
Nem mesmo o risco de o menino ficar sem o catavento, pois
uma lufada de vento mais violenta arrancaria da tênue firmeza de suas
pequeninas mãos a haste, deixava-o apreensivo ao ponto de impedi-lo de
continuar se maravilhando com o espetáculo do giro aleatório no catavento e da
multiplicidade de cores produzidas por este giro.
Eis que, após o carro efetuar uma curva, o menino perde
equilíbrio e a haste escapa de suas mãozinhas. Com a mão espalmada grudada no
vidro traseiro do carro, os dedinhos abertos, o menino lançava um olhar
melancólico ao seu catavento se perdendo no asfalto...
Dirigindo logo atrás, fiz uma manobra brusca para não
passar com a roda do carro por cima do catavento. O menino me olhou espantado.
Fiz um sinal – erguendo os ombros e a sobrancelha – como se quisesse consolá-lo
pela perda que acabara de ter.
Talvez, em retribuição ao que interpretei como gratidão
pelo meu cuidado em não esquartejar por atropelamento ao objeto de seu encanto,
o menino sorriu... sorriu e progressivamente aumentou seu sorriso... até se
converter em gargalhada.
Ao passar pelo carro, percebi que os pais sorriam
atônitos contagiados pela gargalhada do menino, sem – contudo – terem qualquer
conhecimento do ocorrido.
LibaN RaaCh