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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

2 de janeiro de 2012

Por que você quer que eu funde uma comunidade?


Pergunta: Em vez de dirigir-se a multidões heterogêneas em vários lugares e deslumbrá-las e confundi-las com seu brilhantismo e sutileza, por que não dá início a uma comunidade ou colônia e cria uma referência para seu modo de pensar? Você receia que isso nunca possa ser feito?

Krishnamurti:Senhor, brilhantismo e sutiliza deveriam ser sempre mantidos encobertos porque muita exposição de brilhantismo apenas cega. Não é minha intenção cegar ou demonstrar inteligência, isso é muito estúpido, mas quando a pessoa vê as coisas muito claramente não pode evitar de expô-las muito claramente. Você pode pensar que isto é brilhante e sutil. Para mim o que estou dizendo não é brilhante: é óbvio. Esse é um fato. O outro é, você quer que eu funde um 'ashram' ou uma comunidade. Ora, por quê? Por que quer que eu funde uma comunidade? Você diz que isso atuará como uma referência, ou seja, uma coisa que pode ser apontada como uma experiência bem sucedida. É isso que implica uma referência, não é? - uma comunidade onde todas estas coisas são levadas a cabo. É isso que você quer. Eu não quero fundar um 'ashram' ou comunidade, mas você quer. Ora, por que você quer tal comunidade? Eu lhe direi por quê. É muito interessante, não é? Você quer porque gostaria de juntar-se a outras pessoas e criar uma comunidade, mas não quer começar uma comunidade com você mesmo, quer alguma outra pessoa para fazê-lo, e quando estiver pronta, você se juntará a ela. Em outras palavras, senhor, você tem medo de começar por sua conta portanto quer uma referência. Ou seja, você quer uma coisa que lhe dará autoridade de um tipo que pode ser levada a cabo. Em outras palavras, você mesmo não é confiante e daí diz, “Funde uma comunidade e me juntarei a ela.” Senhor, onde você está pode fundar uma comunidade mas só pode fundar a comunidade quando tiver confiança. O problema é que você não tem confiança. Por que você não é confiante? O que quero dizer com confiança? O homem que quer obter um resultado, que consegue o que quer, está cheio de confiança – o homem de negócios, o advogado, o policial, o general, todos são cheios de confiança. Ora, aqui você não tem confiança. Por que? Pela simples razão que você não experimentou. No momento em que experimentar isso, terá confiança. Ninguém mais pode lhe dar confiança. Nem livro, nem professor podem lhe dar confiança. Encorajamento não é confiança; o encorajamento é meramente superficial, infantil, imaturo. A confiança vem quando você experimenta e quando você experimenta com nacionalismo, com a mínima coisa, então experimentando terá confiança, porque sua mente estará viva, flexível; e então onde você estiver haverá um 'ashram', você mesmo fundará a comunidade. Está claro, não está? Você é mais importante que qualquer comunidade. Se você aderir a uma comunidade, será como você é – terá alguém para chefiá-lo, terá leis, regulamentos e disciplina, será um outro senhor Smith ou senhor Rao nesta comunidade desagradável. Você quer uma comunidade apenas quando quer ser dirigido, que lhe digam o que fazer. O homem que quer ser dirigido está cônscio de sua falta de confiança em si mesmo. Você pode ter confiança, não falando sobre autoconfiança, mas só quando você experimente, quando tenta. Senhor, a referência é você, então, experimente, quem quer que seja você, em qualquer nível de pensamento. Você é a única referência, não a comunidade; e quando a comunidade se torna a referência, você está perdido. Espero que haja muitas pessoas se juntando e experimentando, tendo completa confiança e portanto, ficando juntas, mas você sentar do lado de fora e dizer, “Por que você não forma uma comunidade para eu aderir?”, é obviamente uma pergunta tola.

J. Krishnamurti The Collected Works, Vol. V
Postado por Ulisses Fonseca às 04:04 em
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