Não são as deformações da personalidade mas a própria personalidade que faz com que a cultura humana, de modo geral, e a cultura moderna, em particular, tornem-se detestáveis. |
Na verdade, o desenvolvimento do ego ocidental é de tal modo extenso que nos permite sem dúvida questionar se ele não sofreu um processo de hipertrofia, a ponto de transformar-se num tumor perigoso na mente moderna. Neste caso, pode ser que algum grau de "ressorção do ego" deva revelar-se necessário se a humanidade deseja sobreviver à experiência estimulante, porém desintegradora, da ocidentalização sem passar pela auto-incineração. (...)
Parece que a expansão progressiva do ego, que aparentemente caracterizou nossa espécie desde, pelo menos, o início do período neolítico, está agora chegando a um impasse: o egoísmo coletivo desencadeado, quer de natureza racial, nacional ou religioso, só pode resultar em agressão coletiva desenfreada, numa escala que a espécie torna-se, progressivamente, menos apta a suportar. O etnocentrismo de qualquer tipo é egotismo, tanto quanto o é o individualismo competitivo das nações capitalistas mais altamente industrializadas.
De que modo, porém, pode-se deter a ameaça do ego inflado? Não pela "auto-abnegação", pois isso significa, de fato, punir o ego — um procedimento do qual se pode esperar o mesmo resultado que consistiria em se punir um tumor cerebral. Tampouco pela auto-submissão, pois imergir o ego individual no ego mais abrangente da família, da tribo ou da comunhão ideológica não elimina o ego mas apenas o transfere para um nível mais elevado e mais perigoso ainda. Até mesmo a submissão à vontade de Deus, como praticada (ou, pelo menos, adotada) pelos monges e mendicantes de muitas crenças, dificilmente pode gerar um estado de transcendência absoluta do ego, uma vez que Deus (pelo menos como entendido pelos adeptos das três grandes religiões hebraicas) é, ele próprio, um ego. Na verdade, Deus é o ego dos egos: não estorvado pelo id, não supervisionado por qualquer vontade mais elevada e ilimitada quanto ao conhecimento, ao poder e à longevidade.
Assim, se o próprio Senhor não pode nos livrar do ego, quem ou o que poderá fazê-lo? A pergunta é legítima e merece uma resposta cuidadosa. Nossa resposta, contudo, depende de uma análise mais extensa do que a que temos empreendido até agora acerca da estratificação da mente. Por enquanto, basta observar que, sob muitos aspectos, o ego — do mesmo modo que a guerra e a civilização (com as quais ele pode ser mais do que acidentalmente associado) — parece ser uma instituição. Assim sendo, dificilmente podemos esperar que sucumbirá, da noite para o dia, à desinstitucionalização.
Roger W. Wescott - O mais elevado estado de consciência
Mais sobre o assunto em:
http://confrariadosdespertos.blogspot.com/2011/01/o-egoismo.html
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