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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

1 de fevereiro de 2012

Auto Investigação Quem Sou Eu? (parte 1)

AUTO-INVESTIGAÇÃO
RAMANA MAHARSHI
TÉCNICA DE MAHA-YOGA-VICHARA
QUEM SOU EU?


Instruções de Bhagavan Sri Ramana Maharshi - Tradução da versão revisada do original em Tamil publicada por T.N. Venkataraman, Presidente Sri Ramanasraman em Tituvannamalai em 1957)

INTRODUÇÃO

Estas foras as instruções dadas por escrito por Bhagavam Sri Ramana Maharshi nos dias de seu silêncio, cerca do ano de 1901, ao seu discípulo Gambhiram Seshayya. 

A essência dos ensinamentos aqui contidos é claramente:

REALIZA A PERFEITA BEM-AVENTURANÇA
ATRAVÉS DE CONSTANTE MEDITAÇÃO NO SER

CAPÍTULO 1
Investigação no âmago do nosso próprio Ser

Neste capítulo é esclarecida a Senda da investigação no âmago do nosso próprio Ser sob a forma de "Quem Sou Eu?"

1 - O sentido do "eu" — expresso em todas as sensações como "eu vim", "eu era", não é natural e comum aos indivíduos? Ao analisar o significado desse fato chegamos à evidência de que como o movimento e as funções análogas pertencem ao domínio do corpo, essas sensações só se manifestam dessa maneira por uma única razão: porque o corpo está identificado como "eu". 

Entretanto, pode o corpo ser essa "Consciência do Eu?"

Antes do Nascimento esse corpo não estava na "Consciência do Eu". Ele é composto dos cinco elementos. Está ausente durante o sono¹ e, eventualmente, se torna um cadáver. É evidente, pois, que o corpo não pode ser essa "Consciência do Eu". 

Este sentido do "eu" que no momento emerge do corpo, é chamado também de ego, ignorância, ilusão, impureza, ou indivíduo. A finalidade de todas as Escrituras é esta perquirição do Ser. Está declarado nelas que a destruição do sentido do ego é libertação. Como, pois, se pode permanecer indiferente a essa verdade? Pode o corpo, que é inanimado como um pedaço de madeira, refulgir e funcionar como "Eu"? É óbvio que não! Portanto, refugue esse corpo inanimado como se de fato fora um cadáver. Nem mesmo murmure a palavra "eu", mas investigue intensa e profundamente dentro de si próprio o que é que agora brilha no âmago do Coração como "Eu"¹.

Transcendendo o incessante fluxo de pensamentos diversos, surge no Coração como "Eu", "Eu", a contínua ininterrupta, silenciosa e espontânea consciência do Ser. 

Se nos aferrarmos a ela e permanecermos tranquilos, o sentido do "eu" no corpo fenecerá por si próprio, como fogo de cânfora. Os Sábios e as Escrituras afirmam que isto é Libertação. 

2 - O véu da ignorância jamais poderá ocultar completamente o ser individual. Como poderia? Nem mesmo os ignorantes deixam de falar do "eu". A ignorância só faz ocultar a Realidade "Eu sou o Ser", "Eu sou pura Consciência", e confundir o "Eu" com o corpo. 

3 - O Ser é auto-Refulgente. Não é necessário fazer dele nenhuma imagem mental, qualquer que ela seja. O próprio pensamento que a imagina é escravidão, uma vez que o Ser é a Refulgência que transcende à escuridão e à luz e não deve ser cogitada pela mente. Tal idéia finda em escravidão, ao passo que o Ser brilha espontaneamente como o Absoluto. 

Esta investigação dentro do Ser na meditação devocional desdobra-se no estado de absorção da mente no Supremo e conduz à Libertação e à indescritível Bem-Aventurança. Os grandes Sábios tem declarado que somente com a ajuda desta perquirição devocional no Ser pode a Libertação ser lograda. 

O ego, sob o aspecto de "idéia do eu", é a raiz da árvore da ilusão. A sua destruição desfaz essa ilusão à semelhança de uma árvore derrubada pelo corte das suas raízes. Somente este método fácil de erradicar o ego é digno de ser chamado de devoção, conhecimento, união, ou meditação.

4 - Na consciência "eu sou o corpo" estão contidos os três corpos² compostos pelos cinco invólucros³. Se essa consciência for removida, todo o resto sumirá de per si, pois os demais corpos dependem dela. Não há necessidade de eliminação separada porque as Escrituras declaram que a escravidão é o pensamento, exclusivamente. A Injunção final delas é que o melhor método para livrar-se da escravidão do pensamento consiste em sujeitar a mente, na forma da idéia do "eu", ao Ser e, mantendo-se completamente sereno, não esquecê-lo. 
_______
¹ - O "eu" (minúsculo) refere-se à personalidade humana. o "EU" (maiúsculo) designa SER, objeto da auto-investigação (veja capítulos 5 e 6)
² - Ou sejam, o físico, o sutil e o causal dos estados de vigília, sonho e sono respectivamente.
³ - Os envoltórios materiais, sensório, mental, intelectual e da Bem-Aventurança.


CAPÍTULO 2
A natureza da Mente

Neste capítulo são resumidamente descritos a natureza, os estados e a localização da mente. 

1 - Segundo as Escrituras indianas, há uma entidade conhecida como "mente" que se origina no alimento consumido. Ela gera amor, ódio, cobiça, cólera, e assim por diante. É o conjunto da mente, intelecto, memória, vontade e ego, e embora desempenhando tão variadas funções tem o nome genérico de "mente", e é objetivada como os objetos inertes conhecidos por nós. É inanimada, mas quando subjuga à consciência parece animada, do mesmo modo como um ferro aquecido ao rubro parece fogo. O princípio de discriminação lhe é intrínseco. É passageira e possui partes capazes de serem moldadas em qualquer forma como a laca, o ouro e a cera. É a base de todos os princípios-raiz. Está localizada no coração, assim como a visão o está nos olhos e a audição no ouvido. É ela que dá à alma individual o seu caráter e que quando concebe um objeto, já associado com a consciência refletida no cérebro, assume uma forma-pensamento. Em contato com esse objeto através dos cinco sentidos dirigidos pela mente, apropria-se dessa cognição com a sensação de "eu sou consciente disto ou daquilo", gratifica-se com o objeto e fica satisfeita, finalmente. 

Pensar em se determinada coisa pode ser comida ou não é uma forma-pensamento da mente. "É boa, é má", "pode ser comida", por exemplo. Noções discriminativas como estas constituem o intelecto discriminador. Visto que o princípio-raiz que se manifesta como indivíduo, Deus e o mundo, nada mais é do que a mente, pura e exclusivamente, a sua absorção e dissolução no Ser é emancipação conhecida como o Supremo Espírito, o Absoluto.   

2 - Os sentidos, por serem localizados fora do corpo como auxílio para a cognição dos objetos, são exteriores. A mente, porém, que é situada internamente é o sentido de interno. "Dentro" e "fora" são relativos ao corpo, e não tem significação no Absoluto. Com o objetivo de revelar que todo o mundo objetivo está dentro e não fora do corpo, as Escrituras tem descrito o cosmos sob a forma de lótus do Coração. Mas este não é senão outro nome para o Ser. 

A bola de cera usada pelos ourives, embora dissimulando diminutas partículas de ouro, contínua a parecer uma simples porção de cera. Assim também os indivíduos submersos nas trevas da ignorância ou véu universal são cônscios da falta de conhecimento durante o sono. 

No sono profundo, os corpos físico e sutil, colocados que sob o manto negro da ilusão, permanecem todavia imersos no Ser. Da ignorância gerou-se  ego — o corpo sutil. A mente deve ser transmudada no Ser. 

3 - A mente, de fato, nada mais é do que a consciência, porque é pura e transparente por natureza. Nesse estado de pureza, porém, não pode ser chamada de mente. A errônea identificação de uma com a outra é fruto da mente contaminada. Em outros termos, a mente incontaminada e pura, sendo Consciência Absoluta, ao esquecer-se da sua natureza original, é subjugada pela propriedade das trevas e se manifesta como mundo físico. Similarmente, subjugada pela atividade ela surge no mundo manifestado como "eu" e se identifica com o corpo, considerado erroneamente este último como real. Governada pelo amor e ódio, ela executa, desta forma, boas ou más ações e, em consequência, é enredada no ciclo de nascimentos e de mortes. É a experiência de todos que no sono profundo, e nos desmaios, não se tem conhecimento do próprio Ser ou da objetividade. Posteriormente, a experiência "eu acordo do sono", "eu readquiri a consciência" é o conhecimento peculiar que nasce do estado natural. Este conhecimento distinto é chamado "vijana" e não se patenteia por si mesmo, mas devido a ele unir-se ao Ser ou ao não-ser. Quando esse conhecimento particular ou vijana é inerente ao Ser é chamado Conhecimento-Real, ou Conhecimento do processo mental no Ser, ou Conhecimento perpétuo. Quando se combina com o não-ser é chamado ignorância. O estado em que este conhecimento ou vijana é intrínseco ao Ser e brilha como Ser é chamado pulsação do Ser. Esta palpitação não é distinta do Ser, e não é senão um sinal indicativo da próxima Auto-Realização. Entretanto, este não é o estado primevo do Ser. A Fonte à qual a palpitação se revela inerente é denominada Consciência. É ela que a Vedanta proclama como Prajnana Ghana. A Suprema Joia da Sabedoria (de Shankara) descreve esta Estado Eterno nas seguintes palavras: "No escrínio da inteligência resplandece eternamente o Ser — a auto-refulgente testemunha de tudo. Fazendo dele o seu Alvo — que é completamente diferente do irreal — desfrute-o, pela experiência, como seu próprio Ser, através de uma corrente de pensamento contínua.

O sempre luminoso Ser é único e universal. Apesar da experiência individual dos três estados — vigília, sonho e sono profundo — o Ser permanece puro e imutável. Não é circunscrito pelos três corpos — físico, mental e causal — e transcende à relação tripla do observador, da visão e do objeto observado. O esboço da figura abaixo será de ajuda para se compreender o estado imutável do Ser que se sobrepõe às ilusórias manifestações acima descritas.

         
O desenho ilustra como a luminosa Consciência do Ser, refulgindo por si própria, funciona com o corpo causal(7) na câmara interna circundada pelas paredes de ignorância(4) é conduzida pela porta do sono(2) a qual é movida pelas forças vitais face ao tempo e ao Karma, através da passagem(3) de encontro ao espelho do ego interposto ali(5).

Com a luz refletida dali, passa para a câmara intermediária do estado de sonho(8) posteriormente, projeta-se na câmara aberta da vigília(9) através da passagem, ou janelas, dos cinco sentidos(6).

Quando a porta do sono(2) é fechada pela força do vento, isto é, das forças vitais, devido ao tempo e ao Karma, a Consciência retrai-se dos estados de vigília e de sonho e permanece em repouso profundo em sua essência, sem o sentido do ego.

O desenho ilustra também a serena existência do Ser, distinta do ego, e dos estados de sono, sonho e vigília.

O ser individual reside nos olhos (espelho) durante o estado de vigília, no pescoço (atrás na medula oblongada) durante o sonho e no Coração durante o sono profundo, mas destes lugares o Coração é o principal. O ser individual, portanto, jamais abandona completamente o Coração.

Posto que comumente se diga que o pescoço é a sede da mente, o cérebro do intelecto, o Coração, ou corpo todo, a sede do ego, as Escrituras afirmam conclusivamente que o Coração é a sede de todos os sentidos internos (mente, intelecto e ego coletivamente), os quais repita-se, são chamados de mente. Tendo os Sábios investigado as diferentes versões das Escrituras, declararam a síntese da verdade total revelada pela experiência de todos: o Coração é primordialmente a sede do "EU".


⁴ - O ponto de vista errôneo que atribui a Realidade do Ser ao mundo material, como se este fora independente do princípio consciente. Esta falsa idéia é devida à identificação do Ser com o corpo F´sico, e em consequência do que a ignorância assume que aquilo que é externo independe do corpo físico e também, necessariamente, externo e independente do princípio consciente.


(continua)
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