Eu era prisioneiro do cárcere do meu corpo — como prisioneiros eram milhares de meus semelhantes.
E, por haver tantos outros presos, à direita e à esquerda, a minha prisão me parecia coisa normal.
Estar encarcerado era a condição natural de todo homem, dizia eu — e não procurava a liberdade.
Olhei em derredor — era tudo grade de ferro...
Comecei a chamar essa minha prisão a minha casa, o meu palácio.
E, para me iludir mais eficazmente, pintei com todas as cores do disfarce e da auto-sugestão o meu querido cárcere — com pó de bronze, com tintas de prata e de ouro.
E achei notável conforto na prisão-palácio do meu corpo.
Iluminei com as luzes da inteligência o meu cárcere físico-mental, instalei-me confortavelmente nesse habitáculo terrestre — totalmente esquecido da minha cidadania cósmica — dos vastos horizontes do além, do azul dos céus acima, da imensa epopeia de vida e alegria que cantava por todas as latitudes e longitudes do universo de Deus.
Um dia, porém, à complacente sombra do meu cárcere-palácio, ouvi uma voz estranha que estranhamente me falava de coisas estranhas...
Falava de "liberdade" — da "gloriosa liberdade dos filhos de Deus"...
Falava-me da "verdade libertadora" — mundos ignotos para mim...
escutei, escutei, escutei...
Donde vinha essa voz? De fora? — Não, de dentro de mim, das longínquas regiões de dentro, dos profundos abismos do meu próprio ser...
Era minha alma que falava — com irresistível silêncio...
Minha alma, crística por sua própria essência — imagem e semelhança de Deus, participante da natureza divina...
Fiz calar todos os ruídos em derredor a fim de ouvir o silêncio de dentro.
E o silêncio me falava — e, quanto mais eu me calava, tanto mais ele falava...
Percebi, não com os sentidos; compreendi, não com a mente — vivi com o espírito a grande mensagem de minha alma...
A bradar silenciosamente os seus "ditos indizíveis"...
E no meio deste trovejante silêncio de dentro desabaram as muralhas de Jericó, diluíram-se, como cera ao sol, as barras de ferro dourado de minha prisão-palácio...
De todas as minhas prisões — que eram "legião"...
E, quando voltei a mim dos mundos longínquos que invadira sobre as asas brancas de minha alma, olhei em derredor — e não havia barreira em parte alguma...
Ante meus olhos se espraiava, ilimitado, o universo de Deus, o Infinito, o Eterno, o Incomensurável...
E eu me sentia um com o Pai dos céus...
E na luz impetuosa dessa consciência cósmica morreram todas as minhas pequenezas e mesquinharias de outrora — o temor e o ódio, as impiedosas críticas e murmurações, as queixas e susceptibilidade, desapareceram a moléstia crônica do "querer-ser-servido" e nasceu a vigorosa saúde do "querer-servir".
O reino dos céus despontara em mim — e eu estava no reino dos céus...
Saíra do estreito cárcere do meu pequenino Eu humano — e entrara no vasto universo do Tu divino...
Alargara os meus horizontes ao Infinito...
Huberto Rohden