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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

29 de fevereiro de 2012

Imortalidade Consciente - Além da Yoga


Capítulo I
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ALÉM DO YOGA

Milagres? Prodígios? Clarividência? Clariaudiência? O que isso representa? O maior milagre é a realização de SER. O homem realizado está acima disso. Leadbeater descreve centenas de vidas passadas percebidas por clarividência. Para que serve isso? Ajuda os outros ou ele mesmo a conhecer o SER? Você poderia estar agora na Inglaterra (astralmente) mas estaria em melhor situação? Não estaria nem um pouco mais perto da realização. 

Visões e sons que eventualmente possam surgir durante a meditação, devem ser encarados como distrações e tentações. Não se deve permitir a nenhum desses fenômenos desviar a atenção do aspirante e distraí-lo. 

Paul Brunton: As visões e sons místicos vêm depois que a mente estiver concentrada, quieta e em branco como antes? 

Ramana:  Tanto podem vir antes como depois. O importante é ignorá-los e prestar toda atenção somente no SER. 

Que bem pode resultar dos poderes ocultos? Vamos supor que você esteja exercendo todos esses maravilhosos poderes, ardentemente desejando algo e procurando satisfazer esse desejo. E quando um novo desejo surgir, irá desdobrar sua energia e atenção a isso. O resultado será apenas inquietação e aborrecimento da mente agitada. Se a felicidade for realmente seu alvo, terá que definitivamente largar sua diversão com poderes ocultos e procurar encontrar-se através da pergunta: "Que é que deseja a felicidade?"

PB: Por que sinto a paz na sua presença e, quando me afasto, ela não perdura? 

Ramana: Esses arrebatamentos são meros sinais da revelação constante do SER. Esta paz é nossa real natureza. E pelo contrário, somente as idéias estão sendo sobrepostas. É o verdadeiro yoga. Você pode dizer, no entanto, que essa paz pode ser adquirida pela prática. Frequentemente as pessoas compreendem mal o Samadhi▫ . Conta-se que um yogue passou centenas de anos em transe à beira do Ganges e, ao despertar, seu primeiro pensamento foi para a água que havia pedido ao discípulo antes de entrar em transe. A força do pensamento reassumiu sua ascendência, o êxtase lhe foi inútil. A real consecução, disse Maharshi, é estar PLENAMENTE CONSCIENTE, cônscio de seu meio-ambiente e das pessoas que o cercam, mover-se entre elas todas, mas não apagar sua consciência nesse arredor. E sim, permanecer na sua íntima e independente conscientização de tudo isso. Pois, SER é o mais elevado estado, e não ficar sentado em êxtase que nada faz senão parar a mente que tem de ser completamente destruída, e não apenas detida. 

O homem segue o curso de seus Samskaras². Quando pensa que ele é o SER, o ensinamento afeta-lhe a mente cuja imaginação corre desenfreada. Suas íntimas experiências estão conforme sua imaginação no estado de "eu sou o SER". Mas, quando ele estiver maduro para receber o ensino e a sua mente prestes a cantar louvores dentro do coração, o ensino participa dos trabalhos no corpo e o homem conscientiza o SER. Caso contrário, o esforço se impõe. 

O ocultismo e a teosofia de mãos dadas juntos rondam o mesmo alvo. Afinal, seus seguidores querem chegar ao SER. Seus dirigentes, porém, não lhes ensinam a meditar no SER. Para aguçar a inteligência dos outros aspirantes, os Vedas dizem: "Sendo o SER enuviado pelo Avarana, ou seja, coberto da ignorância, como no sono aparece no mundo dos fenômenos. Na realidade, o SER não está encoberto; apenas parece estar aos olhos das pessoas que acham ser o corpo". 

Quando as formas interferem no principal curso ou corrente da meditação, não se deve deixar que a mente fique distraída. Volte a meditar no SER, o Testemunho, e não se preocupe com semelhantes desatenções. Este é o único meio para lidar com tais intervalos. Nunca esqueça de si mesmo!

PB: O que seria se a pessoa meditasse ininterruptamente e não agisse? 

Ramana: Experimente e veja. Suas predisposições não lhe deixarão fazê-lo. Dhyana▫„ vem gradativamente, diminuindo aos poucos os Vasanas▫ pela Graça do Guru.   

Intelecto é o corpo astral. Nada mais é senão um agregado de certos fatores. E o que mais é o corpo astral? De fato, sem o intelecto nenhuma Kosa▫ teria sido conhecido. Quem diz que ali haja cinco Kosas▫? Não é o próprio intelecto? 

Não existe nenhuma espécie de pesar para quem deixou de ver através de seus sentidos físicos e começa a perceber todas as coisas à luz do seu próprio SER. Além do mais, esse pesar (da perda de sua mulher) não é uma indicação do verdadeiro amor. O amor que a pessoa tem para com objetos externos e formas não é o verdadeiro amor. O verdadeiro amor sempre tem permanência no próprio SER da pessoa. 

PB: Estando em meditação, vejo diante de mim lindas cores. É um verdadeiro deleite olhá-las. Nelas podemos ver Deus? 

Ramana: São meras concepções mentais. 

Objetos ou sentimentos ou pensamentos, quer dizer, todas as experiências, em meditação, não passam de concepções mentais. 

Quando Sundaresa Iyer, um professor local, descrevia experiências de Yoga que havia tido, inclusive visões da luz, repicar dos sinos, etc. Maharshi respondeu: "Elas vieram e foram embora. Apenas testemunhe, observe-as; eu mesmo tive milhares de experiências similares, mas ninguém para consultar a respeito". 

PB: Em visões concretas podemos ver Deus? 

Ramana: Sim. Deus é percebido na mente. A forma concreta pode ser contemplada, mas mesmo assim, dentro da própria mente do devoto. O motivo, porém, é apenas para que não se tenha o sentido de dualidade. É semelhante a uma visão do sonho. Depois de ter tido percepção de Deus, Vichara▫ começa acaba na conscientização do SER. Vichara▫ é um método que vem por último.

PB: Paul Brunton não viu no Senhor em Londres? Foi isso apenas um sonho?

Ramana: Sim, ele teve uma visão, todavia, ele me viu na sua própria mente.

PB: Não obstante, ele não viu esta forma concreta?

Ramana: Sim, mas ainda assim, isso era na própria mente dele. 

Guardando Deus na mente, todas as coisas circundantes se lhe tornam Dhyana (meditação). Esta é a última etapa antes da realização que sobrevém somente no SER. Dhyana tem que preceder a realização, não importa de que modo seja. Em qualquer dos dois que você meditar, seja sobre Deus ou mo SER, o alvo será o mesmo. 

PB: Através da poesia, música, etc., às vezes a pessoa experimenta o sentimento de gozo profundo. Isso poderia levar ao mais profundo Samadhi▫ e, no fim, à plena percepção do Real? 

Ramana: Por um aprazível vislumbre, você sentiu esta Felicidade. Felicidade é inerente ao SER. Esta Felicidade não é alienígena, nem muito distante. Você esteve mergulhado no puro SER na ocasião em que achou este estado aprazível. Desse mergulho resultou o vislumbre do SER-bem-aventurança existente. Contudo, é a associação de idéias responsável em provocar essa Felicidade, percebendo o que se passa ao lado. Mas, de fato, isso está dentro de você. Naquelas ocasiões você fica mergulhado no SER completamente inconsciente. Se você fizesse isso conscientemente, chamaria de Realização. Quero que você mergulhe conscientemente no SER, ou melhor, no seu próprio Coração. 

PB: Santa Tereza, assim como os outros, viu a imagem de Nossa Senhora mover-se. Ela a viu de fora. Os outros vêem as imagens de sua devoção flutuando na sua visão mental. Isto é, dentro deles. Não há diferença alguma de grau nesses dois casos? 

Ramana: Ambos indicam que a pessoa tem desenvolvido fortemente o ponto alto da meditação. Ambos os caos são bons e progressivos. Ai não há diferença de grau. Uma pessoa tem um conceito sobre a Divindade e, conforme esse conceito, cria imagens mentais e sente-a nessa imagem. Uma outra tem diferente concepção da Divindade na imagem mental e sente-a nessa imagem. O sentimento está dentro da pessoa em ambos os exemplos. 

PB: Quanto à experiência espiritual de Santa Tereza, era ela devota à figura de Nossa Senhora, que parecia ter vida à vista dela, fazendo com que a Santa ficasse em êxtase de felicidade.

Ramana: A figura animada preparou-lhe a mente para a introversão. É um processo de concentração mental na sua própria sombra que, em dado momento, adquire vida e responde às perguntas feitas a ela. Isso se deve a Manobala (poder da mente) dou Dhyanobala (poder da meditação), a qualquer que seja, a experiência sempre é externa e também temporária. Semelhante fenômeno pode provocar um deleite por algum tempo. Mas a paz permanece, isto é, Shanti, que não concorre para o resultado. Isso se obtém somente pelo descarte de Avidya (ignorância)
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Paul Brunton - A Imortalidade Consciente - Editora EDC
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  Samādhi (sânscrito ज्ञानकोश, samyag,"correto", ādhi, "contemplação") pode ser traduzido por meditação completa. 
▫ Samskaras ou sanskaras é um termo sânscrito, muito usado no hinduísmo que significa impressão ou sob influência de impressões remanescentes (são as tendências inerentes remanescentes de alguma propensão instintiva que influencia a pessoa).
▫ Dhyāna é um termo Sânscrito que se refere a um dos tipos ou aspectos da contemplação (meditação). é um conceito chave no Hinduismo e Budismo. Equivalente aos termos jhāna em Pāli, "chán" em Chinês, "seon" em Coreano, e "zen" em Japonês.
▫ Kosa — os cinco diferentes planos ou invólucros do SER.
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