A iluminação vem do coração e chega ao cérebro, sede do espírito. O mundo é visto com o espírito; assim vocês vêem o mundo pela luz refletida do Si. O mundo é percebido por um ato do espírito. Quando o espírito é iluminado, ele é consciente do mundo, quando ele não é iluminado, ele não é consciente do mundo.
O Si próprio em sua pureza é vivenciado no intervalo entre dois estados ou entre dois pensamentos. O ego é como uma lagarta que solta uma folha apenas quando já se apoderou de outra. Sua verdadeira natureza é conhecida quando ele é subtraído do contato com os objetos ou os pensamentos. É necessário que vocês compreendam este intervalo como sendo a permanente Realidade sem mudança, seu ser real, graças à convicção adquirida pelo estudo dos três estados...
...Qualquer que seja o estado em que nos encontremos, nossas percepções participam desse estado. A explicação disso é que no estado de vigília o corpo físico capta nomes e formas físicas; no estado de sonho, o corpo mental capta as criações mentais em suas múltiplas formas e nomes; no sono profundo sem sonho, não existindo mais a identificação com o corpo, não há percepções; da mesma maneira, no Estado transcendental, a identidade com Brahman (o Si) coloca o homem em harmonia com tudo, e não há nada fora do Si.
“Conhece-te a ti mesmo” e o que temos o costume de dizer. Mesmo isto não está correto. Pois, se falamos de conhecer o Si, deveria haver aí dois Si, sendo um o conhecedor do Si e, outro, o Si que é conhecido, da mesma maneira que o processo
do conhecimento. O estado a que chamamos de realização consiste simplesmente em ser si mesmo, não conhecendo nada nem se tornando nada. Se nós o realizamos, somos o que unicamente é e sempre foi.
A realização do Si é o maior auxílio que pode ser prestado à humanidade. Eis porque se diz que os santos são úteis, mesmo quando permanecem nas florestas. O auxilio é imperceptível, porém, presente. Um santo auxilia a humanidade inteira, ainda que ignorado por ela.
Não há maior mistério que esse – o de que sendo nós mesmos a Realidade, buscamos alcançar a Realidade. Pensamos que existe alguma coisa obstaculizando
nossa Realidade, algo que deve ser destruído antes de alcançarmos a Realidade. Isto é ridículo. Dia virá em que vocês rirão de seu próprio esforço.
Ramana Maharishi, Thus Spoke Ramana Sri Ramanasraman, Tiruvannamalai, 1971.