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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

23 de fevereiro de 2012

Sobre o processo de dispersão mental

O eu, o ego, está sempre preocupado com o ponto de vista de outros egos, de outros eus, em relação ao seu modo de ser, pensar, se expressar e agir. Essa constante preocupação provoca a ansiedade e impede a livre expressão de ser — ainda que adoentada pela identificação ilusória com as exigências descabidas geradas pelo próprio ego. O ego cria o conflito e, ao mesmo tempo, cria também a distração, a dispersão, a qual nos impede de ir até o fundo do conflito, atingindo sua raiz — que é o próprio ego — e assim, compreende-lo e dissolve-lo de uma só vez, sem a necessidade da ideia de tempo — que também é fruto do ego — para que ocorra a necessária eliminação do domínio do ego. Esse tirano sustenta o conflito por meio de lembranças e projeções e, nesse movimento no tempo, impede a compreensão que só pode ocorrer quando, plenamente, holisticamente, nos encontramos no agora. Através desse constante fluxo de lembranças e projeções que ocorrem na ponte do tempo passado-futuro, medos egocêntricos se instalam e, se não estamos atentos, minam nossa energia vital, em consequência, nos quedamos letárgicos, paralisados. Nesse estado de letargia, nada de criativo pode  se manifestar, somente a repetição do passado, com algum tipo de mecanismo de fuga, resultante de nossas experiências passadas, agravadas por suas repetições. Por sua vez, esse mecanismo de fuga, resultante do passado, nos mantém no passado, nos mantém no ciclo vicioso do ego com seus resultantes e inevitáveis conflitos. O que não percebemos é que o vício não está no mecanismo escolhido para que a dispersão ocorra, mas sim, no próprio ato da dispersão. Mesmo a luta, o enorme esforço para a superação do vício quanto ao mecanismo de dispersão escolhido, em si, já é uma forma de dispersão que causa profunda perda de energia. A meta desse processo de dispersão está em impossibilitar um encontro com a Verdade, um encontro com a Realidade, um encontro com aquilo que de fato somos, quando libertos da identificação ilusória com o herdado ego parental/social, por anos por nós alimentado e cultivado, devido nosso estado de inconsciência. A dificuldade maior se encontra no fato de que esse processo de dispersão, além de ser profundamente ligeiro, é também profundamente sutil. Para que ocorra a percepção dessa velocidade e sutileza do processo de dispersão gerado pelo ego, a mente precisa estar calma, ou seja, livre de conflitos, caso contrário, esse movimento de dispersão acaba passando de modo imperceptível e, com isso, dando continuidade a uma existência, destituída de vida, devido a identificação ilusória com o ego. Sem a percepção desse mecanismo de dispersão egocêntrica, torna-se impossível uma vivência plena do agora e, sem a vivência plena do agora, a genuína criatividade, a liberdade e a felicidade não passam de desconhecidos pratos em nosso menu de comidas requentadas. 

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