O que mais admiro nos outros é o sincero desejo, a
vontade indisfarçável, em ajudar. Algo que não é passível de dissimular. Esta constatação ganhou clareza inédita
especificamente hoje, enquanto estava – de manhãzinha, lá por volta das 6h –
tentando continuar dormindo.
Foi-me mostrado que, por causa desta minha severa
inclinação, sempre tive comportamentos taxados como rebeldes no decorrer da
minha vida.
Achava absurda a atitude evidente e preferencial na
defesa de interesses exclusivamente pessoais. O convívio com pessoas que tinham
atitudes acintosamente egoístas me deixava inseguro e incerto. A começar pela
minha própria família, com exceção da minha mãe que executava tarefas
domésticas desgastantes em favor de todos, ao custo de sacrifícios pessoais.
Nos dias de hoje, tenho feito questão em conservar em meu
convívio, ao meu lado, portanto; pessoas com as quais eu sinta esta disposição sincera
e despojada em ajudar o outro.
A minha presença, eu a tenho compartilhado com pessoas
deste calibre. Com pessoas dispostas a desenvolverem esta calibrada potência
humana. As outras pessoas, com quem tenho evitado conviver, fizeram suas
próprias escolhas muito antes de minha chegada a este mundo. Após estas
escolhas serem reincidentemente confirmadas em atos, em comportamentos e em
atitudes, resta, a cada um, conviver o resto dos seus dias com as escolhas
feitas, procurando não ficar estagnado pela culpa. Que cada um fique com seu
quinhão.
De minha parte, faço questão de confirmar a mim mesmo a
minha escolha em oferecer a partilha do meu convívio, em oferecer a minha mais
profunda amizade, a quem pressinto esta devotada solidariedade – ainda que
minimamente manifestada – esta atitude desapegada em querer (com todas as suas forças
disponíveis até o presente instante) beneficiar o outro.
O outro que, na maioria das vezes, encontra-se em região
absolutamente inacessível ao mais poderoso dos mortais e que, no entanto, está
ali... bem perto de mim... do meu lado... ao alcance da minha mão... mas que,
tão somente, a mão imbuída da mais completa nulidade de interesses pessoais
pode alcançar com seu toque.
Para isto é preciso possuir... ou estar possuído (‘estar
possuído’ descreve melhor esta Dádiva da Graça) de uma potência humana que
suscita a seguinte convicção:
—Estou
revestido com a impermeável capa de amor incondicional e sou capaz de dar um
pontapé na porta do Inferno mais profundo e esquecido em amparo a alguém!
A quem foi dispensado um tratamento deste sagrado
calibre, este alguém guarda – no seu mais secreto íntimo – a potência de
dispensar este mesmo tratamento a quem dele tiver real precisão.
Quantos de nós, eu pergunto, quantos de nós podemos
afirmar possuir uma amizade tão incondicionalmente amorosa detentora desta
sagrada potência?
Eu, particularmente, conheço duas pessoas que vivem esta
postura sacrificial de um em relação ao outro (Nelson e Deca). O quanto um iria
até o inferno mais denso e pesado, não só em nome do outro, mas, também, em
nome de qualquer um outro que precisasse, que realmente precisasse...
Partilhar o convívio com pessoas deste calibre é
privilégio... privilégio de quem ousou fazer escolhas de semelhante padrão
sacrificial!
LibaN RaaCh