Dentro de muitos — talvez não seja seu caso — existe um poderoso ego que adora se agarrar em escapistas ideais de um vir-a-ser divinizado, escapistas ideais espiritualistas de que, com o mínimo esforço, uma Beleza sequer imaginável possa se manifestar em meio de seu real estado de dependência, confusão e contradição. Na realidade, o fato da presença desse ego não observado e portanto não compreendido é que impede que outro estado de ser, neste exato momento se apresente. Através da observação clara do seu atual estado de ser, pela observação destemida, minuciosa e rigorosamente sincera é que a verdade pode se manifestar, o Real pode surgir, e não através de práticas meramente escapistas que prometem por bem-estar, unidade interna, felicidade e liberdade instantânea. Muitos buscam a Felicidade, poucos buscam compreender as razões pelas quais se mantém num constante estado de infelicidade. Muitos adoram falar e falar sobre Felicidade, Verdade, Ser Real, mas, poucos são os que caem na real e que enxergam a verdade do porque de serem infelizes e, nessa infelicidade, continuarem como seguidores de gurus com seus ideais. São muitos aqueles que se apresentam com palavras que alegram os olhos e os ouvidos, palavras estas que substituem nosso antigo arquivo de aparências e imagens, por outro arquivo de imagens de um belo teor espiritualista, no entanto, continuam a alimentar a formação de imagens com suas aparências e promessas de felicidade e liberdade. É muito mais fácil imaginar que não importa o que está ocorrendo na sua vida do que compreender o que está ocorrendo em sua vida. Nada é mais poderosamente ilusório do que o escapismo através da idéia da busca da verdade absoluta que você é, afinal, é muito mais fácil e imaturo buscar pelo ilusório êxtase momentâneo sustentado na afirmação vinda de terceiros de que você seja uma corporificação da Suprema Felicidade, do que alimentar a paixão do autoconhecimento — momento a momento — que produz a maturidade necessária, através da qual, uma vida livre de conflitos se apresenta. Só na compreensão do causador de nossos conflitos que nos causam incontáveis sofrimentos é que a felicidade e a liberdade podem se apresentar de forma natural.
Felicidade e liberdade não chegam à nós através de alguma forma de "Doril Mental", "Novalgina palavrória" ou "Diazepan Espiritualista". Isso requer paixão, isso requer observação sem escolha. Fora disso, o que se pode vivenciar, agora, é a continuidade de uma vivência na irrealidade, causadora de infinitos desejos e medos, os quais, quando não observados e compreendidos, por muitos são narcotizados com a idéia de uma feliz felicidade radiante e pura que se apresenta sem nenhuma razão ou motivo.
Viva de ideais de vir-a-ser e seja feliz!... Busque a sua Real Natureza sem a observação e compreensão daquilo que acontece com você, através de suas reações e escolhas imaturas e o caos do mundo e as pessoas desaparecerão de forma milagrosa! — Esse é o teor da promessa feita por muitos que auto se intitulam como homens e mulheres realizados, iluminados. Isso é o que dizem atrás de suas pomposas palavras. De fato, o mundo não tem nenhum poder sobre você, o poder causador de problemas está na não compreensão do "você" que você não observa, na não aceitação do que é e na constante fuga pelo vir-a-ser divinizado, que em seu medo, continua sempre em busca de proteção e dependente condução. A busca da Felicidade sem a devida compreensão daquilo que se é, é o substrato e a base de uma vida repleta de contradição.
- Reflexão após uma leitura de um texto Adváitico
Nelson Jonas Ramos de Oliveira