Muitos escrevem livros porque sabem algo e, todavia, porque necessitam aprender algo. "Escrevo um livro para poder trocar", me disse numa ocasião meu amigo Joseph Chilton Pearce. Nos primeiros anos desde a primeira edição em inglês deste livro, tenho observado — e espero ter apreendido — umas tantas coisas, tanto acerca do mundo da espiritualidade contemporânea como acerca de mim mesma.
Tenho aprendido que existe nas pessoas uma genuína sede do que é real. Não acreditava que este livro ia ser tão amplamente apoiado e apreciado por guias reconhecidos e estudantes deste campo, pois sei que o material que contém é exigente e supõe um desafio para o ego. Este livro se dirige de maneira direta à falsidade e a distorção tão frequentes tanto nos círculos espirituais contemporâneos como em nosso interior, e nem todo mundo está interessado nesta confrontação. Não obstante, mediante ao seu apoio e seu apreço, as pessoas demonstraram seu anseio de algo que fale sobre as verdades mais profundas que todos conhecemos; que a vida, também a "vida espiritual", está saturada tanto de sublime gozo como de devastador sofrimento, com avanços sem precedentes e constantes auto-enganos, com êxtases transbordantes e com ternos desenganos, com momentos extraordinários e com outros de um bruto cotidiano. Quando começamos a amadurecer espiritualmente, começamos a ver os erros cometidos (tanto por nós como por nossos guias) em nossas primeiras tentativas de regenerar uma cultura espiritual viva no Ocidente. Desse modo, nos interessamos cada vez mais na investigação de nossos erros para poder achar um modo de criar algo que fale diretamente tanto as nossas necessidades como as de nossa cultura.
No que diz respeito ao meu próprio desenvolvimento, o material do livro se aferra a mim como um prego em minha consciência. Ano passado imaginei que um autor poderia de algum modo escrever um livro e não sentir-se plenamente responsável de viver a verdade nele apresentada. Descobri que isto não é correto. O presente que me foi oferecido através do livro era uma oportunidade para encontrar a profunda sabedoria compartilhada comigo pelos grandes mestres de nossos dias; a "maldição" é que não posso dele duvidar e no fundo de meu coração nunca o quisera fazer. Sem dúvida, quando não me encontro centrada no centro de meu coração — e é muito fácil me afastar dele —, sou tão suscetível como qualquer um de cair na multidão de erros e enganos descrito ao longo destas páginas. Ano atrás ano, ao ser atraída pelas incontáveis seduções espirituais oferecidas pelo universo, minha consciência se vê graciosamente atormentada de intermináveis recordações: que é inútil se agarrar a experiência mística; que tanto o ego como o "coração" com frequência falam em similares tons; que a desilusão e os erros constituem uma parte importante do caminho; que o materialismo espiritual se esconde a cada esquina (especialmente no caso dos escritores destes temas!); que não podemos confiar em nossas experiências e sem dúvida temos que confiar nelas. Assim sendo, renovo meu voto diante de vocês, leitores, para seguir com meu trabalho com toda a integridade que me seja possível.
Além do mais, me sinto cada vez mais impressionada diante da natureza compartilhada tanto de nosso sofrimento como de nossa sede de liberdade. Algumas pessoas podem expressar este anseio através do alcoolismo, outras anestesiando a si mesmas na codependência das relações ou com a saturação material; e outras através de um intenso estudo, da meditação e da busca da verdade, porém há algo que segue sendo comum à todos. De algum modo compartilhamos de nosso destino e estou agradecida porque me recordar disto tão profundamente.
A medida em que iniciamos um novo século na evolução espiritual do Ocidente, necessitamos empregar uma combinação de penetrante auto-honestidade e sem comiseração, com uma terna compaixão ao revisar nossa própria condição interior, assim como a do mundo que nos rodeia. O ressurgir de um renovado interesse e sede de significado e satisfação espiritual em nossas vidas é inegável, e por isso temos a responsabilidade de insuflar integridade espiritual na cultura ocidental. Cabe a nós se assim permitirmos, escolher que este apetite seja saciado por uma medíocre empresa de fast-food, uma tendencia tão frequentemente expressada na modernidade ocidental, ou se dirigirmos nossa inteligência, nossa autenticidade e nossa integridade para a criação de algo verdadeiramente satisfatório, duradouro e que sirva à totalidade.
Mariana Caplan
Fairfax, California 2001
Fonte: Introdução à 2ª edição do Livro: A Mitad de Camino - La Falácia de la Iluminación Prematura - Mariana Caplan - Editorial Kairós