Amanheceu.
Ergueram-se as cortinas: as pálpebras se abriram. O show
vai começar.
Tem início mais um dia...
Mais um dia onde deixarei estes meus ossos revestidos de
carne, estes sustentáculos de uma aparência humana, expostos a outros ossos, a
ossos inanimados, aos ossos do ofício.
As disputas por reconhecimento em troca de remuneração causam,
no princípio, orifícios imperceptíveis em cada osso exposto. Orifícios do
ofício. Os primeiros ossos perfurados localizam-se no tórax, na
altura do peito, minando improváveis emanações de afeição e ternura.
E, assim, vão sendo quebradas cada uma das costelas na
caixa torácica aonde o coração e os pulmões se abrigam, aonde o bombeamento da vitalidade
e o purificador de nosso ar vão sendo desvitalizados.
Ao término do dia, quando as cortinas se fecham, quando
cerro os olhos, verifico – alquebrado – quão cansativo foi empreender meus
esforços mais honestos em defesa do ganha-pão.
E, ao final, convencido de haver dedicado as melhores
luzes aos anos da ribalta em minha vida, quem sabe poderei me retirar ao
descanso merecido...
Quem sabe...?
LibaN RaaCh