Aviso aos navegantes

Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

5 de dezembro de 2011

Nada novo no front da insatisfação com as teorizações - II


Suponhamos que você nunca tinha lido um livro, religioso ou psicológico, e você teria que encontrar o sentido, o significado da vida. Como você conseguiria isso? Suponha que não existam instrutores, organizações religiosas, nem Buddha, nem Christo, e que você teria que começar do início. Como você encararia isso? Primeiro você teria que compreender o seu processo de pensamento, não seria isso? - e não as projeções dos seus pensamentos para o futuro, que criaram um Deus do seu agrado, isso seria demasiado infantil. Então, primeiro você teria que entender o processo de seu pensamento. Essa é a única maneira de descobrir alguma coisa nova, não é? Quando dizemos que a aprendizagem ou o conhecimento é um empecilho, um obstáculo, nós não estamos incluindo nisso o conhecimento técnico – como dirigir um automóvel, como operar máquinas – ou a eficiência desses conhecimentos. Temos em mente coisa muito diferente: um sentido de felicidade criadora que nenhuma quantidade de conhecimento nem aprendizado trará. Ser criador no mais verdadeiro sentido dessa palavra é ser livre do passado momento a momento, porque é o passado que está sombreando continuamente o presente. Apenas um agarrar-se a informação, e experiências alheias, ao que alguém disse, por “mais considerada que seja” esta pessoa, e tentar de aproximar sua ação de tudo isso – isso é conhecimento? É? Mas para descobrir algo novo você deve começar por conta própria, você deve começar uma viagem completamente desnudado de tudo, especialmente de conhecimentos, porque é muito fácil, pelo conhecimento e convicções ter experiências, mas estas experiências são apenas os produtos de auto-projeção e, portanto totalmente irreais, falsas. Mas, examinando profundamente, não apenas superficialmente, o que acontece realmente? Por que uma pessoa se irrita? Porque esta pessoa é ferida, alguém falou algo desagradável, mas quando alguém diz que uma coisa o que o lisonjeia, você fica satisfeito. Por que você é ferido? É o sentimento de auto-importância, não? E por que existe este sentimento de auto-importância? Porque cada pessoa tem uma idéia, um símbolo de si, uma imagem de si, do que a pessoa deveria ser, e do que a pessoa não deveria ser. Por que a pessoa cria uma imagem sobre si? Porque esta pessoa nunca estudou o que ela é, realmente. Pensamos que devemos ser isto ou aquilo, o ideal, o herói, o exemplo. O que desperta a raiva é aquele nosso ideal, a idéia que temos de nós mesmo está sendo atacada. E nossa idéia sobre nós é a nossa fuga do fato do que realmente somos. Mas quando você está observando a realidade daquilo que você é, ninguém pode machucar você. Então, se um é mentiroso e é chamado de mentiroso, não quer dizer que isso o machuca, isso é um fato. Mas quando você está enganado, você não é mentiroso e é chamado de mentiroso, então você fica zangado, violento. Então nós sempre vivemos num mundo de ideação, um mundo de fantasias e não no mundo de realidade. Para observar o que é, está realmente familiarizado com ele, não deve haver nenhuma avaliação, nenhuma opinião, nenhum medo.
Krishnamurti – O Livro da Vida
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