A religião é um dos diversos métodos pelos quais um indivíduo pode estabelecer contato com um nível mais elevado de consciência. antes, porém, de se abordar esse tema, algumas palavras devem ser ditas a respeito à "consciência", pois até mesmo o significado desse termo é amiúde mal compreendido no Ocidente. A consciência, nas obras ocidentais, tem sido muitas vezes igualada ao "pensamento", mas a consciência não é, de modo algum, o pensamento, assim como não é a emoção, a sensação ou o movimento. Ela não é nenhuma de nossas funções; ela é uma percepção das nossas diversas atividades no exato momento em que estas estão ocorrendo em nós. Uma pequena auto-observação será suficiente para nos demonstrar que, geralmente, pensamos, nos movimentamos e reagimos aos estímulos que atuam sobre nós sem termos uma percepção do que está acontecendo dentro de nós. Em outras palavras, reagimos de um modo absolutamente automático aos diversos estímulos que provocam nossas reações. Muitas vezes nem sequer percebemos essas reações. (...)
Para alcançar as regiões mais silenciosas da consciência, temos de escapar das regiões barulhentas da nossa mente, nas quais desperdiçamos a maior parte de nosso tempo. Isso requer um controle de nossos pensamentos. Poderemos então ser capazes de alcançar aquela região silenciosa que é a moradia do Espírito, pois não conheço melhor definição da palavra Espírito senão a e que ele é a Consciência Pura, desprovida de quaisquer pensamentos e palavras. A aquisição de níveis mais elevados de consciência está intimamente vinculada a certas práticas religiosas e, mais especificamente, às práticas da meditação e contemplação. estas constituem os primeiros passos para a disciplina da mente, o que, no decorrer do tempo, pode conduzir à aquisição de níveis mais elevados de consciência. A meditação também é a entrada para um caminho novo em muito mais direto do conhecimento, um caminho no qual o "conhecido" e a coisa "conhecida" unem-se e tornam-se a mesma coisa. Trata-se de uma estrada difícil de ser trilhada porque nossa atenção está sendo, repetida e novamente, atraída pela incessante tagarelice que ocorre em nossas cabeças. Eventualmente, porém, podemos conseguir, por um pedaço de tempo, alcançar um estado de consciência pura, isenta de pensamentos, um estado no qual a verdade nos é revelada DIRETAMENTE e sem uso de palavras.
Nesses momentos, vemos, em vez de pensar, e é só mais tarde que começamos a procurar de modo desajeitado as palavras através das quais tentamos expressar o que nos foi revelado. Não há nada "pessoal" ou mesmo individual no conhecimento direto que nos chega num estado Supraconsciente. Nossa consciência individual dissolveu-se numa consciência muito mais ampla, que consideramos Universal. Desse modo, também estivemos cientes da presença, em nosso interior, de algo muito mais elevado do que nós próprios, de algo que, na falta de algum outro termo, fomos forçados a chamar de Deus.
Os estados supraconscientes podem surgir, mas não necessariamente, como uma recompensa pela autodisciplina da meditação. Embora nunca perdurem por um tempo muito longo, durante esses estados temos a impressão de estarmos habitando num "eterno agora". Em breve, porém, a intensidade de nossa sensação do "ser" enfraquece, o nível de nossa consciência diminui, nossas personalidades afirmam-se de novo e retornamos, uma vez mais, ao mundo do tempo e das tagarelices interiores. Daquilo que se passou, permanece apenas uma sensação de gratidão pelo que aconteceu. A vida então absorve-nos de novo e desaparecemos. Contudo, é bem provável que jamais nos esqueceremos daquilo que nos aconteceu. Nossa experiência do estado supraconsciente permanece para nós como o evento psíquico mais importante de nossas vidas.
John White - O mais elevado estado de consciência