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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

21 de dezembro de 2011

Raciocinar, crer e saber.


Crer é algo penúltimo – saber é último.
É necessário crer, mas é insuficiente crer.
Ninguém pode saber sem que primeiro creia. Ninguém pode dar o último passo sem passar pelo penúltimo.
Se for difícil para o homem inteligente crer – dificílimo é para o homem crente saber.

O simples entender ou inteligir mental é a vida ideal do ego; é nessa zona da ciência intelectual que o homem profano vive e se diverte habitualmente, e nessa zona pode a personalidade luciférica celebrar os seus maiores triunfos, pode chegar mesmo ao mais intenso satanismo anti-espiritual, se quiser.

Esse simples inteligir mental é perfeitamente compatível com o não crer e, quando unilateral, leva mesmo à descrença total.

Com o despontar da crença, do crer volitivo, começa uma espécie de agonia para o orgulhoso inteligir mental, porque este se vê obrigado a aceitar algo que ele não pode analisar cientificamente, o que é humilhante para o intelecto.

Mas essa agonia não termina em morte total do ego. Essa morte total só se dá com a transição do ‘crer’ para o ‘saber’.

O ‘sapiente’ morreu tanto para a inteligência como para a crença. Deixou de ser um inteligente e deixou de ser um crente. A sua sapiência experiencial da Suprema Realidade devorou todas as irrealidades e semi-realidades inferiores, do plano ‘inteligir’ e do ‘crer’.

Esse homem é um grande ‘liberto’, um verdadeiro ‘redento’, redimido da velha escravidão do mundo dos objetos em que se movem os inteligentes e os crentes. Esse homem deixou de ser ‘profano’, e se tornou ‘iniciado’, o que não quer dizer que seja um homem plenamente ‘realizado’. Iniciado é aquele que fez um início, isto é, que abandonou os seus ziguezagues oscilantes e incertos e pôs o pé no princípio de uma linha reta que o levará rumo ao seu destino final.

Muitos são os profanos.
Poucos os iniciados.
Pouquíssimos os realizados.

Por que é tão difícil passar do ‘inteligir’ para o ‘crer’ e do ‘crer’ para o ‘saber’?

Porque o ‘inteligir’, ou entender mental, é terreno batido, conhecido e firme – ao passo que o ‘crer’ é terreno misterioso, incerto – e o ‘saber’ é um mundo totalmente ignoto para a maior parte dos homens, mesmo os crentes. Ora, a lei da conservação exige que pisemos terreno conhecido e garantido; do contrário, corremos perigo de deixarmos de existir. Não sacrificar o certo pelo incerto – é imperativo categórico da biologia em todos os setores da vida.

Se não houvesse, nas profundezas da natureza humana, algo que nos garantisse a existência para além das fronteiras do inteligir, não cruzaria o homem essa perigosa fronteira mental.

O profano não é ainda concebido.
O crente é concebido, porém não nascido; apenas nascituro.
O sapiente é nascido, um pleninato.

A fé, o crer, é uma ponte misteriosa entre um mundo conhecido e um mundo desconhecido; é uma visão longínqua da Suprema e Única Realidade; é a voz da nossa origem, o eco do Infinito dentro do nosso finito.

Sendo o homem essencialmente divino – embora a consciência da sua divindade se ache, por ora, em estado potencial de latência – pode a voz do  Supremo acordar nele o eco ou a reminiscência da sua origem divina. Quando o homem escuta em si essa voz de Deus, que é a voz do seu verdadeiro Eu, então ele crê, tem fé. E esse crer é o primeiro passo para o saber.

Que falta ao crer para culminar em saber?

Falta o mais apertado de todos os caminhos, falta a mais estreita de todas as portas – falta que o homem passe pelo “fundo da agulha”, despojando-se de tudo que ele ‘tem’ e ficando só com aquilo que ele ‘é’.

Esse desnudo SER, livre de todas as impurezas do TER, é que é o passo mortífero que leva à vida eterna.

Todo homem que passa por essa morte mística entra na vida eterna.
Todo homem que se recusa a passar por essa morte mística, cai vítima da morte eterna...

Huberto Rohden, “O Sermão da Montanha” (do capítulo “Estreita é a porta e apertado o caminho que conduzem à vida eterna”)



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