Há uma interessante história de um discípulo que foi procurar o Mestre. O Mestre está sentado num jardim muito bonito, quieto, bem irrigado, e o discípulo vem sentar-se perto dele — não bem à sua frente, porque sentar-se diretamente à frente do Mestre não é muito respeitoso. Assim, sentando-se um pouco para o lado, o discípulo cruza as pernas e fecha os olhos. Então, pergunta o Mestre: "Meu amigo, o que você está fazendo?" Abrindo os olhos, o discípulo responde: "Mestre, estou tentando alcançar a consciência de Buda" — e torna a fechar os olhos. Daí a momentos, o Mestre apanha duas pedras e começa a esfregar uma na outra, com muito barulho; então, o discípulo desce das alturas em que andava e pergunta: "Mestre, o que você está fazendo?" Ao que o Mestre responde: "estou esfregando estas duas pedras, para fazer com que um delas se torne um espelho". Diz então o discípulo: "Mas, Mestre, isso jamais conseguirá fazê-lo, ainda que fique um milhão de anos esfregando essas pedras". Sorri, então, o Mestre e responde: "De modo idêntico, meu amigo, você pode ficar ai sentado um milhão de anos, que nunca alcançará o que está tentando alcançar". — E é isso o que todos nós estamos fazendo. Todos estamos tomando posições; todos estamos desejando alguma coisa, buscando alguma coisa, às apalpadelas — o que exige esforço, luta, disciplina. Mas, sinto lhes dizer que nenhuma dessas coisas lhes abrirá a porta. O que abrirá a porta é a compreensão sem esforço; apenas olhar, observar, com afeição, com amor. Mas vocês não podem ter amor, se não são humildes; e só é possível a humildade quando nada desejam, nem dos deuses nem de nenhum ente humano.
Krishnamurti - 30 de julho de 1964