Ironicamente, cometemos injustiça ao taxarmos a civilização
moderna como antiecológica. Esta mesma civilização nos lembra, diariamente, de
nossa semelhança com os peixinhos do mar – pois somos tratados como sardinhas
pelos meios de transporte público e particular (vide a fila de latas
motorizadas no trânsito) –; somos lembrados de nossa semelhança com as aves do
céu, ou, melhor, com os insetos do céu – pois somos tratados como moscas a
espantar nas repartições públicas ou no sistema judiciário –; lembrados de nossa
semelhança com os animais que andam sobre a terra – ao sermos tratados como burros
de carga no trabalho ou como rebanhos a abater nos hospitais e consultórios –; e, para fechar o ciclo de todos os departamentos ecológicos, somos lembrados de
nossa semelhança com as matas e a flora – ao sermos tratados como um pomar
obrigado a dar frutos aprazíveis à família e à coletividade.
Até aqui, ‘nada de novo no front’, pois estas evidências
já estão surradas de tão batidas.
O novo está na deliberação em COMO nos posicionamos
diante disso: se como parte deste caos ou à parte dele.
Ninguém, em sã consciência, delibera tomar parte neste
caos, de onde podemos concluir que quem toma para si o partido deste caos está
com a sua consciência comprometida. Pouco importa se este comprometimento
envolve alguma ideia – errônea – de desenvolvimento. O fato primordial é que a
integridade da consciência, a natureza íntegra do Ser, fica seriamente
comprometida.
Desenvolver-se implica em integrar-se, em favorecer um
estado íntegro com a totalidade da natureza humana da qual somos espécimes
vivos, da qual ocupamos o topo da cadeia biológica alimentar, o topo no
entrelaçamento das manifestações ecológicas departamentalizadas.
Inserimos a abrangência de qualquer ordem macrocósmica nas
manifestações microcósmicas de nossa natureza individual na proporção exata em
que nos permitimos fluir – feito água cristalina – através das realidades
circunstanciais do nosso dia-a-dia. Fluir... sem as convulsões ditadas pelo
movimento brusco das placas que compõem o leito destas águas. Do contrário, a
impotência será bem mais do que uma simples sensação passageira.
Ainda que se produzam entraves no percurso destas águas,
formados de entulhos acumulados pela adesão ao caos, ainda que haja abstenção
da qualidade cristalina, nada conseguirá deter a fluência destas águas cujo
represamento resultará, apenas, no aumento de sua energia potencial.
LibaN RaaCh