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Constante e renovada contemplação.
A pessoa auto-realizadora é dotada da maravilhosa capacidade de contemplar repetidas vezes, de modo renovado e até mesmo ingênuo, as coisas simples da vida, com admiração, prazer, surpresa e até êxtase, mesmo que as outras pessoas vejam essas experiências como corriqueiras. (...) Assim para esse indivíduo, qualquer pôr-do-sol é tão belo quanto o primeiro testemunhado, qualquer flor tem um encanto deslumbrante, mesmo já tendo visto milhares de flores. O milésimo bebê parece um ser tão milagroso quanto o primeiro visto. Mesmo depois de 30 anos de casamento, continua a considerar-se uma pessoa de sorte e a se surpreender, como há 40 anos, com a beleza da esposa, mesmo ela estando com 60 anos. Para essas pessoas, até mesmo o trabalho cotidiano rotineiro ou cada momento do ato de viver pode ser excitante, emocionante e arrebatador. Essas sensações não ocorrem o tempo; elas surgem ocasionalmente e nem sempre, no entanto, nos momentos mais inesperados. A pessoa pode atravessar o rio da balsa dezenas de vezes e na décima primeira travessia reviver intensamente as mesmas sensações a mesma reação diante da beleza e igual excitação como da primeira vez em que pisara na embarcação.
Observam-se algumas diferenças entre as escolhas dos objetos de contemplação. A inclinação de alguns indivíduos é pela natureza. Outros, principalmente por crianças e, para alguns, especialmente por música de boa qualidade. No entanto, é possível afirmar que todas resultam em êxtase, inspiração e intensidade das experiências básicas da vida. Nenhum desses indivíduos, por exemplo, terá esse mesmo tipo de reação por frenquentar uma danceteria, obter muito dinheiro ou até mesmo por se divertir em uma festa.
A experiência (mística) de pico.
Essas expressões subjetivas chamadas experiências místicas, tão bém descritas por William James, são razoavelmente comuns para esses indivíduos, embora não. As fortes emoções descritas na seção anterior às vezes tornam-se suficientemente intensas caóticas e generalizadas para serem chamadas de experiências místicas.
O interesse e a atenção sobre esse assunto foram inicialmente despertados em mim pela descrição feita por esses indivíduos da sensação do orgasmo sexual em termos mais ou menos familiares que, mais tarde, me lembrei terem sido usados por vários escritores para descrever o que eles chamavam de experiência mística. Observou-se a mesma sensação do horizonte infinito se abrindo diante dos olhos, o sentimento nunca antes vivido de ser ao mesmo tempo mais vigoroso e mais impotente, sensação total de êxtase, encantamento e admiração, a perda da noção do tempo e do espaço e, finalmente, a convicção de haver experimentado algo extremamente importante e valioso, de modo que a pessoa se sinta de alguma maneira transformada e fortalecida por essas experiências até mesmo na vida cotidiana.
É importante desvincular essas experiências de qualquer referência teológica ou sobrenatural, embora por milhares de anos fossem vinculadas. Por se tratar de experiência natural, bem de acordo com a área de atuação da ciência, chamo-a de experiência de pico.
Também aprendemos com essas pessoas que tais experiências podem ocorrer em menor grau de intensidade.A literatura teológica tem geralmente assumido uma diferença absoluta e qualitativa entre a experiência mística e as demais. Assim que desvinculada da referência sobrenatural e estudada como um fenômeno natural, torna-se possível situar a experiência mística em uma série contínua do intenso ao brando. Descobrimos, então, que a experiência mística branda ocorre para muitos, talvez até para a maioria dos indivíduos; e, para as pessoas favorecidas, com frequência, até mesmo diariamente.
A mística aguda ou a experiência de pico parece ser uma extrema intensificação de qualquer das experiências em que há perda de si ou trasnscedência da experiência, por exemplo, a centralização do problema, a concentração intensa, (...) a experiência sensual intensa, o desfrute profundo e altruístico de uma música ou uma arte.
O interesse social (Gemeinschaftsgefuehl).
Essa palavra, inventada por Alfred Adler,é a única disponível para descrever perfeitamente o tempero dos sentimentos pela humanidade expressos pelas pessoas com características de auto-realização. Essas pessoas têm pelo ser humano em geral o profundo sentimento de identificação, compaixão e afeto, apesar de ocasionais raiva, impaciência ou repugnância. Por causa desses sentimentos esses indivíduos possuem um verdadeiro desejo de contribuir com a raça humana. É como se fossem todos membros de uma única família. O sentimento dessas pessoas em relação aos irmãos seria de total afeição, mesmo que sejam tolos fracos ou até mesmo deitáveis. Eles seriam perdoados mais facilmente que os estranhos.
Se a visão do indivíduo não for suficientemente geral e não for propagada durante um longo período, talvez ela não enxergue esse sentimento de identificação com a espécie humana. A pessoa alto-realizadora é, afinal de contas, bem das outras no pensamento, no impulso, no comportamento e na emoção. Em resumo, em alguns aspectos básicos, ela se parece com um forasteiro em uma terra de estranhos. Bem poucos a compreendem, mas muitos gostam dela.
Ela se sente muitas vezes aflita, amargurada e até mesmo irada pelas limitações dos indivíduos medianos; enquanto para esses indivíduos medianos normalmente são apenas simples ameaças, outras vezes se tornam verdadeiras tragédias. Às vezes, não importa quão distante ela esteja desses indivíduos, ainda nutre um sentimento subjacente básico de bondade por essas criaturas com as quais deve se preocupar se não por condescendência, pelos menos por se saber capaz de realizar muito mais do que elas, de enxergar coisas que elas não conseguem ver, porque a verdade tão clara para ela é, para a maioria das pessoas, obscura e oculta. Esse comportamento é o que Adler chamou da atitude de irmão mais velho.
Trecho Original extraído do livro Motivaton and Personality de Abraham Maslow