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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

16 de março de 2012

Relato de uma experiência culminante

Foto: egosistema
Em algum lugar do passado...

A depressão iniciática havia atingido seu ponto culminante, fazendo com que a mente entrasse em total colapso. Não mais dispunha ela da energia pendular necessária para dar continuidade a sua tentativa de solucionar o conflito — por ela mesmo criado — de forma totalmente dual (faço, não faço... largo, não largo...). Já não havia mais energia para sustentar a resistência diante do forte impulso criado pela mente para a concretização da ideia de cometer suicídio. De repente, deu-se a instalação de um estado de total rendição, de total prostração e impotência diante do poderoso fluxo de conflituosos pensamentos. O corpo se encontrava curvado, quase que em posição fetal. Com o sentimento resultante da rendição, deu-se a constatação dos nervos do corpo se soltando, liberando assim, toda a tensão que causava a dispersão de energia vital. Deu-se a percepção de todo fluxo de energia, antes preso no processo de tensão, sendo direcionado de forma abrupta em direção ao centro da mente, ocasionando algo semelhante a uma explosão silenciosa, seguida de de uma impactante fala, surgida na parte posterior da caixa craniana, bem próximo das primeiras vértebras do pescoço. A impactante fala limitou-se à expressão: "Eu Sou O Que Sou". Instantaneamente, todo conflito, toda confusão, toda tensão, todo labirinto de questionamento, dissolveu-se de tal maneira, que só pode ser simbolizada com a palavra "milagrosa". Uma possante carga de energia apoderou-se do corpo, mente e coração, energia essa que tinha seu centro de origem na região superior do cérebro, dando a impressão de que a mesma partia de um local externo do corpo, algo como um palmo acima da cabeça. Essa energia era profundamente calorosa e o corpo parecia envolto por uma brisa benfazeja, algo como uma Presença Invisível, amorosamente acolhedora. Havia o sentimento de estar seguro sobre a ação dessa Presença. Não existia o sentido de tempo e espaço, observador e coisa observada; tudo parecia ser parte de "Algo" único, dotado de cores e formas, cuja intensidade, torna-se impossível a descrição. Era possível a percepção da energia, dos pensamentos e sentimentos que moviam os seres, bem como os ambientes. Uma capacidade de leitura vibratória, instalou-se juntamente com a potencialização da sensibilidade. Uma Realidade nunca antes imaginada tomou conta de todo o ser, na verdade, não havia separação entre o ser e a Realidade. Essa Realidade se expressa num ritmo próprio, dotado de profunda calma e compaixão. Aliás, o próprio ritmo da respiração podia ser sentido como a Pura Compaixão. Não havia qualquer manifestação de ansiedade, medo ou a necessidade de movimento, de ação por parte do corpo.  Era um estado de contemplativa compaixão, o qual trazia consigo, uma percepção imediata, sem espaço para a medição da mente. Nesse estado, não havia passado, nem futuro e, em consequência, nenhum sentido de apego, inclusive no que se refere ao corpo. Havia uma tal clareza de percepção que a mesma chegava a causar dores no ser — mas que não tem nenhuma relação com as dores criadas pelo conteúdo da mente. Enquanto nesse estado, até o entendimento de línguas e símbolos que não faziam parte do conteúdo da mente, eram lidos de imediato, sem esforço, o que para a mente lógica, racional, cartesiana, soa como algo completamente destituído de sentido. Não se tratava de um processo alucinógeno, aliás, apesar da intensidade do processo depressivo, a mente e o corpo não se encontravam sobre a influência de nenhum tipo de droga receitada ou não. Uma intuição premonitória, elevada a níveis indizíveis, apontava a direção e trazia a ação imediata que não era resultante de um processo de ideação, ação imediata esta que causava conflito com outras mentes, que de forma codependente, se alimentavam do antigo estado de ser. Foi no choque com essa mentes controladoras e autocentradas que insistiam dizer que tudo aquilo não passava de um perigoso surto psicótico à ser imediatamente clinicado, que o medo encontrou espaço para a identificação e, por meio dela, deu-se a instalação do processo de "queda do paraíso". Esse estado de bem-estar e bem-aventurança deve ter levado algo próximo a sete dias; não há como precisar. No choque com a antiga realidade, instalou-se novamente um profundo quadro depressivo, no entanto, este já não apresentava mais o anterior impulso para o suicídio, mas sim, um forte impulso para a busca daquele estado de compaixão contemplativa, em cuja totalidade do ser, grafou como que com fogo, a pedra de seus mandamentos. À partir de então, toda relação que não apontasse para a potencialização do Ser e que, ao contrário, forçava ao ajustamento servil, por não servir de ponte, era deixada pelo caminho. Nenhuma verbalização tem o poder de alcançar e registrar o conteúdo do que aconteceu nesse processo iniciático de abertura e limpeza do coração. A tentativa de verbalização pela mente lógica, racional, tem tanta vida e frescor como folhas secas, soltas ao vento outonal. 
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