Hariwansh informou-se com o sadhu e descobriu que Ramana Maharshi vivia em Tiruvannamalai, no sul da Índia. Como ele já havia gasto todo o seu dinheiro nas viagens anteriores em busca de um Guru, ele financiou sua presente jornada conseguindo um emprego em uma empresa que ficava em Chennai, uma cidade distante poucas horas de trem de Tiruvannamalai.
Quando ele chegou no ashram de Ramana Maharshi, em 1944, ele descobriu, para a sua frustração, que Ramana Maharshi era a mesma pessoa que tinha aparecido para ele, como um sadhu, em Lyalpur. Sentindo-se enganado, ele estava prestes a deixar o ashram quando foi informado, por um devoto residente, que Ramana Maharshi jamais havia deixado Tiruvannamalai nos últimos 50 anos. Intrigado, ele decidiu ficar.
Na primeira vez que falou com Ramana Maharshi ele perguntou: “Você é o homem que apareceu para mim na minha casa no Punjab?” Sri Ramana permaneceu em silêncio. Então ele lhe fez a pergunta padrão: “Você já viu Deus? Em caso positivo, você pode me capacitar a vê-l’O?”
O Maharshi respondeu: “Eu não posso lhe mostrar Deus porque Deus não é um objeto a ser visto. Deus é o sujeito. Ele é aquele que vê. Não se preocupe com aquilo que é visto. Descubra quem é aquele que vê.” E acrescentou: “Somente você é Deus”.
Muito embora Hariwansh não estivesse disposto a seguir tal conselho, ele permaneceu no ashram por tempo suficiente para ter uma experiência transformadora na presença de Sri Ramana. Assim ele a descreve:
Suas palavras não me impressionaram. Elas me pareceram mais uma desculpa na longa lista daquelas que eu já havia ouvido de diversos swamis em todo o país. Ele prometeu mostrar-me Deus [quando apareceu em minha casa no Punjab], mas agora ele diz que não apenas não pode me mostrar Deus, como também que ninguém mais pode. Eu o teria abandonado imediatamente sem pensar duas vezes, se não fosse pela experiência que tive imediatamente após ele me dizer para descobrir quem era o “eu” que queria ver Deus. Ao concluir suas palavras ele olhou para mim, e na medida em que fitou meus olhos profundamente, todo o meu corpo começou a tremer. Uma vibração de energia nervosa atravessou meu corpo. Eu sentia como se as minhas terminações nervosas estivessem dançando, e meus pêlos arrepiaram-se todos. Tornei-me consciente do Coração espiritual dentro de mim. Este não é o coração físico. É, isto sim, a fonte e o apoio de tudo o que existe. Dentro do coração eu senti ou vi algo como um botão de flor fechado. Ele era brilhante e azulado. Com o Maharshi me olhando e eu em um estado de silêncio interior, senti esse botão abrir-se e florescer. Eu uso a palavra “botão”, mas essa não é uma descrição exata. Seria mais correto dizer que algo que parecia um botão abriu-se e floresceu em meu Coração. Foi uma experiência extraordinária, que eu nunca tinha tido antes. Eu não tinha vindo em busca de experiências, e quando isso aconteceu fiquei muito surpreso.
Apesar de tal experiência, Hariwansh decidiu que os ensinamentos de Sri Ramana não eram para ele. Então ele foi para o outro lado de Arunachala, a montanha sagrada onde Sri Ramana tinha permanecido toda a sua vida adulta, e continuou com suas meditações em Krishna.
Antes de retornar para Chennai, ele decidiu parar no Sri Ramanasramam e ver o Bhagavan mais uma vez. Hariwansh disse novamente que tinha visões constantes de Krishna. Sri Ramana perguntou: “Você o vê neste momento?” Não, respondeu o devoto. “Então qual é a utilidade de uma divindade que surge e desaparece? Se ele é um Deus real, ele deve estar com você o tempo todo”, retorquiu o mestre.
Hariwansh retornou para Chennai para começar em seu novo emprego. Ele intensificou sua prática de repetir o nome de Krishna, coordenando-a com sua respiração, até que chegou num estágio em que repetia o mantra de Krishna 50.000 vezes todos os dias. Então, surpreendentemente, os deuses Ram, Sita e Lakshman apareceram diante dele em sua casa em Chennai, ficando com ele quase a noite toda. Depois que eles se foram, Hariwansh percebeu-se incapaz de continuar com a repetição dos mantras. Perplexo com esse novo desenvolvimento em sua prática, ele decidiu retornar ao Ramanasramam para explicar sua delicada situação ao Maharshi.
Após relatar os detalhes do que tinha acontecido, Sri Ramana respondeu-lhe dizendo que a sua prática foi como um trem que o levou ao seu destino. Assim Hariwansh descreve o encontro:
Sri Ramana disse: “O trem [de Madras a Tiruvannamalai] lhe trouxe até o seu destino. Você desceu dele porque não mais precisava do veículo… Foi isso o que ocorreu com a sua prática. Seu japa [repetição do nome de Deus], suas leituras, sua meditação, lhe trouxeram à sua destinação espiritual. Você não mais precisa delas. Você não as abandonou: essas práticas o deixaram espontaneamente porque alcançaram seu propósito. Você chegou.”
Então ele me olhou atentamente. Eu podia sentir que todo o meu corpo e mente estavam sendo lavados com ondas de pureza. Eles estavam sendo purificados pelo seu olhar silencioso. Eu sentia ele olhando diretamente para o meu coração. Sob o efeito daquele olhar encantador senti cada átomo do meu corpo sendo purificado. Era como se um novo corpo estivesse sendo criado para mim. Um processo de transformação estava ocorrendo – o velho corpo estava morrendo, átomo por átomo, e o novo corpo estava sendo criado no seu lugar. Então, repentinamente, eu entendi. Compreendi que este homem com quem eu havia falado era, na realidade, o meu verdadeiro Ser, aquilo que sempre fui. Ocorreu um súbito reconhecimento, na medida em que me tornei consciente do Eu Real. Eu uso a palavra “reconhecimento” propositadamente, uma vez que eu soube, assim que essa experiência me foi revelada, que este era o mesmo estado de paz e felicidade no qual eu tinha ficado absorto quando era um garoto de seis anos de idade em Lahore. O olhar silencioso do Maharshi re-estabeleceu em mim esse estado original. O desejo de buscar um Deus externo desapareceu sob a luz do conhecimento do Eu Real que o Maharshi me revelou. (…) Eu sabia que minha busca espiritual havia terminado.