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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

19 de março de 2012

Volte para casa


Carta 44

É tempo de deixar de buscar fora de você aquilo que lhe fará feliz. Olhe para dentro.

Existe uma história Sufi muito famosa: um imperador saía de seu palácio para sua matutina caminhada, quando se encontrou com um mendigo. Perguntou ao mendigo: "O que você quer?" O mendigo riu e disse: "Você pergunta como se pudesse cumprir o meu desejo".

O rei se ofendeu. Disse: "Por suposto que posso cumprir seu desejo. Qual é? Diga-me"

O mendigo disse: "Pense duas vezes antes de prometer algo". O mendigo não era um mendigo comum, era o Mestre da vida passada do Imperador. E nessa vida havia lhe prometido: "Virei e tentarei lhe despertar de sua próxima vida. Porém, o rei havia se esquecido completamente. Quem recorda suas vidas passadas? De modo que insistiu: "Cumprirei qualquer desejo que peças. Sou um imperador muito poderoso. O que você pode desejar que eu não possa lhe dar?"

O mendigo disse: "É um desejo muito simples. Você vê esta tigela de esmolas? Você pode preenchê-la com alguma coisa? Ele chamou um de seus criados e disse: "Encha com dinheiro a tigela deste homem".  O criado saiu e voltou com algo de dinheiro, que colocou na tigela... no instante o dinheiro desapareceu. E colocou mais e mais, e enquanto colocava um pouco, desaparecia. E a tigela permanecia sempre vazia. 

O palácio inteiro se reuniu. De pronto o rumor atravessou a capital e uma gigantesca multidão se concentrou. Estava em jogo o prestígio do imperador. Disse aos seus visitantes: "Se perder o reino inteiro, estou disposto a perde-lo, porém, não posso ser derrotado por este mendigo". Diamante, pérolas e esmeraldas... Seus tesouros se esvaziavam. A tigela do mendigo parecia não ter fundo. Tudo que se colocava dentro, tudo, imediatamente desaparecia, deixava de existir. Finalmente entardeceu e as pessoas ficaram em silêncio. O rei caiu aos pés do mendigo e admitiu sua derrota. Disse-lhe: "Só diga-me uma coisa. Você saiu vitorioso, porém, antes de ir, satisfaça-me um curiosidade. De que é feita esta tigela de mendigar?"

O mendigo rindo disse: "É feita da mente humana. Não há segredos... Só é feita de desejo humano..."

Esta compreensão transforma a vida. Ir à um desejo, qual é o seu mecanismo? Primeiro há uma grande excitação, um grande suspense, aventura. Você sente que algo vai acontecer, que você está a beira dele. E logo você tem o carro, tem o iate, a casa, a mulher... E de pronto tido volta a carecer de sentido. 

Que acontece? Sua mente o desmaterializou. O carro se acha estacionado na garagem, porém, não há mais excitação. A excitação existe só para obtê-lo... Você se embriagou tanto com o desejo, que você se esqueceu do seu nada interno. Agora, uma vez cumprido o desejo do carro lá fora, a mulher na cama, o dinheiro em sua conta corrente, novamente a excitação desaparece. Novamente está ali o vazio, pronto para devorar. Novamente, você deve criar outro desejo para escapar deste abismo de bocejos. 

É assim como nos movemos, de um desejo para outro. É assim como seguimos sendo mendigos. Sua vida inteira o demonstra uma e outra vez: todo desejo frustra. E quando se consegue o objetivo, você necessitará de outro desejo. 

O dia em que você entender que o desejo como tal fracassará, chegará o momento de mudança em sua vida.

A outra viagem é para dentro. Mova-se para dentro, volte para casa. 

Zen: O Caminho do Paradoxo
Vol. 2, pp. 208-220
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