Permaneça com seu Ser
Parte II
Este é o segundo post da série Permaneça com seu Ser. Veja o primeiro.
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Pergunta: Como se alcança isto?
Nisargadatta: A ausência de desejo e de medo o levará lá.
O Supremo é o mais fácil de se alcançar pois é o seu próprio ser. É suficiente não desejar nem pensar em nada que não o Supremo.
É a falsidade que é difícil e que é fonte de problemas. Ela sempre quer, espera, exige. Sendo falsa, é vazia, sempre em busca de confirmação e reconfirmação. Tem medo da inquirição e a evita; identifica-se com qualquer apoio, por mais fraco e momentâneo que seja. O que quer que consiga, perde, e pede mais.
Nisargadatta: Mesmo que eu lhe diga que você é a testemunha, o observador silencioso, isto não significará nada para você a menos que encontre o caminho para seu próprio ser.
Pergunta: Minha pergunta é: Como encontrar o caminho para o próprio ser?
Nisargadatta: Desista de todas as perguntas, exceto “Quem sou eu?” Pois, afinal, o único fato do qual você tem certeza é que você é. O “Eu sou” é certo. O “eu sou isto” não é.
Esforce-se para encontrar o que você é na realidade.
Lembrar-se de si mesmo é virtude, esquecer de si mesmo é pecado.
O procedimento correto é aderir ao pensamento de que você é o campo de todo conhecimento, a Consciência imutável e perene de tudo o que acontece aos sentidos e à mente. A ideia “Eu sou apenas a testemunha” purificará o corpo e a mente e abrirá o olho da sabedoria. O homem vai além da ilusão e seu coração se liberta de todos os desejos.
Por sua própria natureza, o prazer é limitado e transitório. Da dor o desejo nasce, na dor ele busca realização e termina na dor da frustração e do desespero. A dor é o pano de fundo do prazer, toda busca de prazer nasce na dor e termina na dor.
Discriminar e descartar (viveka-vairagya) são absolutamente necessários. Tudo deve ser examinado cuidadosamente e o desnecessário deve ser impiedosamente destruído.
Acredite-me, não poderá haver destruição demais. Pois na realidade nada tem valor. Seja apaixonadamente desapaixonado – isto é tudo.
Quando, através da prática da discriminação e desapego (viveka-vairagya), você perder de vista os estados sensorial e mental, o puro ser emergirá como o estado natural.
Para conhecer o mundo você se esquece do Ser – para conhecer o Ser, você se esquece do mundo.
O que é o mundo, afinal? Uma coleção de memórias. Agarre-se ao que importa, segure-se no “Eu sou” e abra mão de todo o resto. Isto é sadhana.
Esteja plenamente consciente de seu próprio ser e você estará na bem-aventurança conscientemente. É porque você dirige sua mente para fora de si mesmo e fixa naquilo que você não é, que você perde seu senso de bem estar, de estar bem.
Como sabe, a personalidade é apenas um obstáculo. A autoidentificação com o corpo pode ser boa para uma criança, mas crescer verdadeiramente depende de tirar o corpo do caminho ( ir além do corpo). Normalmente, a pessoa deveria superar em relação aos desejos do corpo cedo na vida. Mesmo o Boghi, que não recusa prazeres, não precisa ansiar por aquilo que ele já experimentou. Hábito, desejo pela repetição, frustra tanto o Yogi quanto o Boghi.
Existem tantos que tomam o alvorecer pelo meio dia, uma experiência momentânea pela plena realização e destroem até mesmo o pouco que tinham conseguido, por excesso de orgulho. A humildade e o silêncio são essenciais para um sadhaka [buscador], por mais avançado que seja. Apenas um jnani [iluminado] plenamente amadurecido pode permitir-se completa espontaneidade.
Seja atento, investigue incessantemente. Isto é tudo.
Com certeza, seja egoísta – da maneira certa. Deseje estar bem, trabalhe no que é bom para você. Destrua tudo o que se coloca entre você e a felicidade. Seja tudo – ame tudo – seja feliz – faça feliz.
A memória é material – destrutível, perecível, transitória. Sobre tais frágeis fundações construímos um sentido de existência pessoal – vago, intermitente, onírico. Essa vaga persuasão: “Eu sou isto e isto” obscurece o estado imutável da Pura Consciência e nos faz acreditar que nascemos para sofrer e morrer.
A liberdade para fazer o que se quer é, na realidade, escravidão, enquanto ser livre para fazer o deve, o que é correto, é a real liberdade.
Tudo o que você tem a fazer é ver o sonho como sonho.
Seja qual for o nome que dê a isso: vontade, firme propósito, ou mente focada, você retorna à seriedade, sinceridade, honestidade. Quando você é intensamente sério, você faz uso de cada acontecimento, cada segundo de sua vida ao seu propósito. Você não desperdiça tempo e energia em outras coisas. É totalmente dedicado, chame a isto vontade, amor ou total honestidade.
Encontre o permanente no efêmero, o único fator constante em cada experiência.
Nada pode bloqueá-lo mais que as concessões, pois elas mostram a falta de seriedade, sem a qual nada pode ser feito.
Comece desassociando-se de sua mente. Resolutamente lembre-se que você não é a mente e que os problemas dela não são seus.
Dê sua total atenção ao que é mais importante em sua vida – você mesmo. Do seu universo pessoal, você é o centro – sem conhecer o centro, o que mais você pode conhecer?
Para ir além da mente, você deve manter sua mente em perfeita ordem. Você não pode deixar uma bagunça para trás e seguir em frente. A confusão vai lhe puxar. “Recolha seu lixo” parece ser uma Lei Universal. E uma lei justa também.
Apenas lembre-se de você mesmo. “Eu sou” é suficiente para curar sua mente e levá-lo além. Apenas confie um pouco.
Se quiser conhecer sua verdadeira natureza, deve ter a si mesmo em mente todo o tempo, até que o segredo de seu ser seja revelado.
Nisargadatta Maharaj
Fonte: http://advaita.com.br