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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

14 de março de 2012

Qual é a base do conflito humano?

No vosso coração, na vossa mente, reside a verdade e procurá-la no exterior
é inútil, ainda que seja mais agradável... Deus só pode ser encontrado quando
a mente não mais busca vantagem para si. — Jiddu Krishnamurti

Há uma urgente necessidade de compreender o conflito humano sem a ação de nenhuma influência externa. Para a compreensão do conflito humano se faz necessária profunda seriedade, sem a qual, não é possível fazer frente e superar, por meio do discernimento, as poderosas e estagnantes raízes do medo. 

A fonte do conflito encontra-se no medo de não ter atendidas as inconfessáveis exigências de nosso desejo de segurança psicológica. Para compreender de vez essas várias formas de desejos conflitantes, ou seja, compreender a própria entidade desejante, a qual está sempre em busca de algo que impeça, que desfoque a ação do discernimento quanto a sua irrealidade. 

A falta da compreensão da natureza dessa entidade desejante é que mantém a própria entidade — o eu, o ego — com seu modo de existir profundamente limitado pelas mais variadas formas de dependências psicológicas com suas exigências claudicantes. Sem a devida compreensão dessa entidade desejante, toda forma de busca, toda forma de ação — que na realidade é reação — tudo isso só pode levar à instalação de mais conflitos aos já há tempos instalados. É como uma fórmula matemática que explica a natureza de qualquer ciclo compulsivo:

CONFLITO + DESEJO DE ALIVIO IMEDIATO = CONFLITO²

Sem a investigação da entidade desejante, nunca pode haver a percepção direta daquilo que cria e move a busca por desejos cambiantes. Todo desejo é precedido de uma idéia, de um pensamento; é uma forma de reação inconsciente à alguma influência externa aos sentidos, os quais sempre estão em busca de segurança. Não há nada de errado com os sentidos; eles nos foram dados pela vida. O problema é quando estes estão sobre os domínios do ego, cumprindo portanto, suas funções de forma deturpada. A própria identificação ilusória de que a nossa natureza real são os nossos sentidos, já é uma das manifestações de nossa natureza irreal: o eu, o ego, uma vez que, nós não somos os nossos sentidos, mas sim, a Consciência que se faz consciente da ação dos sentidos. 

Quando não há a investigação dessa entidade desejante, em razão da inconsciência da mesma, é passível a ocorrência de toda forma de identificação doentia, as quais acabam sendo fontes criadoras de mais e mais conflito. Por sua vez, estes conflitos acabam dando lugar a mais e mais idéias e pensamentos que apontam para novos desejos e buscas que prometam solucionar os conflitos — ou pelo menos, amenizá-los. Assim, sem a percepção, sem o discernimento dessa entidade desejante, o ser humano permanece prisioneiro desse imenso labirinto de conflitos e desejos. 

Só na compreensão da entidade desejante é que pode deixar de existir toda manifestação de desejo — o qual é sempre um movimento na irrealidade da ponte to tempo psicológico. É esse movimento cíclico na ilusória ponte do tempo — passado-futuro — o qual nos impede a completa vivência do agora, que mantém a entidade desejante num constante estado de desejo, euforia, seguidos de insatisfação depressiva. Sem essa investigação, não há como se manifestar a percepção de que todo desejo está sempre limitado a idéia, ao background da entidade desejante, background este que sempre cria a insatisfação diante da realidade que se apresente. É esse background que cria a dualidade entre "gosto e não gosto", "aceito e não aceito", "quero e não quero"; a dualidade sempre cria o resíduo da experiência a ser acumulada na memória, resíduo este que intensifica ainda mais o background dessa entidade desejante. Quanto maior o background, mais distante a percepção e a aceitação da realidade. Quanto maior o background, mais o passado — com suas idéias e medidas — interfere na direta visão da realidade. 

A libertação de toda manifestação de conflito só pode ocorrer quando existe a compreensão total dos movimentos, dos impulsos, das sugestões, das imperiosas exigências da entidade desejante, com a qual o ser humano se identifica como sendo seu "Eu Real", como sendo sua Real Natureza. Só na compreensão direta da irrealidade dessa entidade desejante é que pode se revelar "Algo" imensamente superior aos limitados conhecimentos da realidade física e, através dessa revelação — que só pode ocorrer quando não há mais a escolha pelo desejo de fuga — é que a irrealidade da entidade desejante pode ser "dissolvida" de vez. E, essa sagrada compreensão, só pode ocorrer quando há espaço e a energia da tranquilidade do silêncio meditativo. 

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