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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

4 de março de 2012

Só 1 'Dia Internacional da Mulher'?

[Em homenagem à natureza humana (no feminino); nem homem, nem mulher]

Será possível olhar para qualquer elemento da espécie humana sem, à primeira vista, classificá-lo de acordo com o gênero (homem ou mulher)?

Quantas bocas não seriam alimentadas se conseguíssemos, de uma vez por todas, adquirir a propriedade de um golpe de vista sem resquícios classificatórios de gênero nenhum?

Quantos rebentos deixariam de ficar privados do leite produzido pelo seio materno se arrebentássemos, um por um, com os pensamentos que depõem contra o outro? Mesmo o seio cancerígeno escaparia da mastectomia enquanto fosse livre da dicotomia.

A doença resulta de um disciplinado treinamento que dá vida às criações da mente em detrimento às ‘creações’ do peito.

Quando treinamos a aptidão, própria da natureza humana, em irradiar do peito poderosas emanações gentis e simpáticas, comprovamos o quanto a mente nos mantém detidos, devido ao acintoso treinamento dedicado tão somente a ela no decorrer de nossa formação escolar.

Se o treinamento fortalece, também enrijece; enquanto a falta de treinamento, atrofia.

Mentes enrijecidas e corações atrofiados tem sido a ‘ordem do dia’ durante séculos, séculos de desordem e de poucos relatos de períodos pacíficos.

A quais treinamentos deveríamos submeter esta mente enrijecida a fim de transformá-la, como muito bem disse o confrade Nelson, em fiel servidora de um simples coração... de um coração simples?

Nas minhas aulas de teatro, a diretora Berta Zemel (jamais esquecida por quem a viu atuando como atriz ao menos uma vez) tinha o hábito de dizer, referindo-se à aprendizagem fundamental para quem pretendia exercer a arte como ofício:

     O verdadeiro artista galopa - em pé - sobre dois cavalos. Um, representa a razão; o outro, a intuição.

Claro que este ensinamento pode ser ampliado. O cavalo da razão, sobre o qual um dos pés estaria firmado, seria a mente; enquanto sobre o outro cavalo, o da intuição, onde o outro pé se firmaria, seria o coração. Se na condução destes dois cavalos faltasse vigor ou equilíbrio, deixando um ultrapassar ao outro, o tombo seria inevitável.

Quem viu Berta Zemel atuando nos palcos pode afirmar que ela exercia a excelência deste ensinamento com majestade. Foi através dos ensinamentos dela, desta mulher magistral – que quando questionada quanto à sua nacionalidade ou religião dizia-se uma cidadã do mundo – que eu tive a minha primeira experiência visceral de viver um personagem, de me transportar apaixonadamente para a vivência do universo que é o outro ser humano, de transubstanciar em vida um punhado de falas escritas por um dramaturgo através da voz, dos gestos e da presença.

Quando apreendemos Vida desta dimensão sacerdotal, ainda que por um breve lapso de tempo, este minúsculo ‘grão de mostarda’ entronizado no peito operará como lêvedo, fermentando toda massa dos componentes constituintes de nossa natureza real.

Pouco importa se cedo ou tarde, o maná há de vir, há de vir em abundância...

E tanto o homem como a mulher poderão ser celebrados enquanto partes de uma mesma natureza humana.

LibaN RaaCh
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