O MEDO é a própria natureza do "eu" porque o "eu" se vê continuamente ameaçado, de diferentes maneiras, principalmente nas grandes crises; e como vivemos cheios de medo e não encontramos outra solução, pomo-nos em fuga por caminhos diversos, ou corremos para os lideres políticos, ou religiosos. Este problema não pode ser resolvido por nenhum líder e por nenhum dogma. Não há exercito, nação ou idéia que possa trazer a paz ao mundo. Quando cada um de nós for capaz de compreender a si mesmo como um processo total - não meramente o problema econômico ou o problema das massas, mas o processo integral de nós mesmos, como indivíduos - então, na compreensão desses processos, surgirá a paz. Só então poderá haver segurança. Se pusermos, porém, em primeiro lugar a segurança, se a consideramos como coisa mais importante da vida, nesse caso nunca haverá paz; só escuridão e temor.
SE puderdes, simplesmente, estar cônscio de que vos servis do percebimento, como uma moeda, para comprar alguma coisa, e prosseguirdes deste ponto de partida, começareis então a descobrir todo o processo do vosso pensar, do vosso ser, nas relações da existência.
SE uma pessoa sabe que a verdade não pode ser achada por intermédio de ninguém, de nenhum livro, de nenhuma religião; que a Realidade só se torna existente quando a mente está de todo tranqüila; que a tranqüilidade só pode vir com o autoconhecimento, e que o autoconhecimento não lhe pode ser dado por ninguém mas tem de ser descoberto por ela própria, momento por momento -- então, por certo, aparece uma tranqüilidade mental, que não é morte, mas uma paz realmente criadora, e só então pode surgir o Eterno.
SE a mente está em busca de uma segurança qualquer, oferecida por um líder, uma determinada maneira de viver, uma determinada nacionalidade ou grupo, essa mente só pode criar confusão no mundo, e mais sofrimento, conforme se está vendo na hora atual. Importa, pois, cada um de nós descubra, por si mesmo, o que é, mediante o abandono da autoridade, o que é extremamente difícil; e a percepção do que é, o descobrimento do que é, será o processo libertador. Como sabeis, porém, quase todos nós temos medo de ficar desprotegidos, completamente sós, e por isso cada um se esquiva a ser um ente emancipado, capaz de descobrir as coisas por si mesmo.
Krishnamurti – Conferência realizadas em New York - EUA - 22 de maio de 1954