A MENTE
Expressar-se através de palavras não é um culto. A desnudação dos pensamentos é conhecimento. Este sim, é a existência absoluta.
Pessoas insistem em fazer-me perguntas de modo que eu deva lhes responder. Mas a Verdade está além das palavras.
Paul Brunton: Como fazer parar a mente?
Ramana: Quer um ladrão pegar um ladrão? Quer a mente encontrar a si própria? A mente não pode buscar a mente. Você andava ignorando o que é Real e guardou na mente aquilo que é irreal, inclusive procurando saber o que ela é. Existia a mente enquanto você dormia? Não. Não existia. Agora ela está aqui. Por isso é impermanente. Pode a mente ser encontrada por você? A mente não é você. Por ter pensado ser a mente, por isso me pergunta de que modo examiná-la. Se ela estivesse aí agora, poderia ser examinada. Mas ela não está. Compreenda está verdade através da busca. A busca da irrealidade é inútil. Portanto, vá procurar a Realidade, ou seja, o SER. Esse é o meio para superar a mente. Existe só uma coisa Real. As outras são meras aparências. Diversidade não é a Natureza d'Aquela. Estamos lendo letras impressas, contudo ignoramos qual é a substância (background) dele. O mesmo se dá com você, que absorve as manifestações da mente e não toma conhecimento do fundo (background) delas. De quem é a culpa?
A essência da mente é apenas conhecimento ou a conscientização. Quando o ego, seja por que meio for, dominar a mente, ela funcionará como razoamento, pensamento abstrato ou faculdade sensorial. A Mente Cósmica, não sendo limitada pelo ego e não tendo nada separado dela, permanece pura Consciência. É isso que a Bíblia entende pelo "EU SOU O QUE SOU".
PB: Por que o Senhor não prega à massa para que siga o caminho certo?
Ramana: Você já decidiu que eu não prego. Sabe você quem sou eu e o que é pregação? Como sabe que eu não estou fazendo isso? A pregação consiste em subir no palco e arengar a multidão em volta? Pregação é simplesmente comunicar o conhecimento. Talvez isso possa ser feito também em silêncio. O que você está pensando de alguém ouvindo um orador durante uma hora ou mais indo embora sem levar impressão alguma? Compare-o com outro, que sentado na santa presença e depois de algum tempo deixando-a, tem seu ponto de vista sobre a vida completamente mudado. O que é melhor? Pregar em voz alta sem impressionar o ouvinte ou silenciosamente, deixando que as forças intuitivas ajam no outro, ao captá-las? Também, como essas palavras surgem? É o imanifestado conhecimento abstrato de onde brota o ego para pensar e daí forma as palavras. Nessa ordem, a descendência das palavras que fluem é a Fonte Original da qual são bisnetos. Se a palavra pode produzir efeito, quanto mais a pregação através do silêncio? Julgue por si mesmo.
O verdadeiro estado de consciência não tem conteúdo. Os psicólogos ocidentais contestam isso e afirmam que a consciência deve ter um objetivo. Eles tem toda razão, enquanto a consciência individual e mental entrarem em jogo (sem a mente não há individualidade, pois o corpo é algo inerte), porém, não acertaram no que diz respeito à EXISTÊNCIA UNIVERSAL.
Quando alguém perguntou a Maharshi "Eu suponho que o Senhor tenha vislumbrado Deus?" — ele permaneceu em silêncio. Seus olhos fixavam um vácuo. Quando o frustrado inquiridor saiu, Maharshi explicou a seus discípulos que a resposta à semelhante pergunta seria inútil e só poderia levar a infindável diálogo.
O sentido ou significado de "EU" é Deus. A Vivência do "EU SOU" significa estar quieto. A prática do silêncio não significa calar a boca. É a fala eterna. Esse estado que transcende a fala e o pensamento é silêncio.
PB: Como consegui-lo?
Ramana: Mantendo firme alguma coisa e puxando-a para trás. O resultado da concentração é silêncio. Quando a prática se tornar natural, acabará em silêncio. A meditação sem atividade mental é silêncio. Subjugar a mente é meditação; a meditação profunda é a eterna fala.
PB: Como fazer tudo isso?
Ramana: A carência de sentimento de que somos o SER é a causa-raiz da dificuldade. Largue os pensamentos e simplesmente seja! Apenas seja! São os pensamentos, os únicos que geram obstáculos. São eles que dificultam. Encontre a quem os pensamentos ocorrem; tanto quanto você pensar que o falso ser existe, fará com que ele se mostre assim, mas, encontrando de onde ele surge, logo desaparecerá.
Os que descobriram a grande Verdade fizeram isso no profundo silêncio do SER.
PB: A dificuldade está em manter o estado sem pensamento e, forçosamente, ainda pensando em obrigações.
Ramana: O pensador é você mesmo. Deixe a ação se ajeitar de acordo. Por que ligar-se às dificuldades? Quando você sai à rua, levanta os pés automaticamente e anda, sem pensar sobre isso. Assim, aos poucos, o estado se torna automático; pense, quando a necessidade surgir e deixe-a desaparecer por sua própria conta. A intuição trabalha quando o pensador não tem pensamentos, guiado pela intuição. Aqueles que fizeram grandes descobertas, fizeram-nas não quando ansiosos nelas pensaram, mas em silêncio, pela intuição.
A atividade mental cessa com a resposta à pergunta dirigida a si próprio. Mesmo quando você está pensando em Deus, ainda é uma atividade e tem de abandoná-la. A pergunta da auto-inquirição mergulha em Deus e então cessa todo pensar sobre Ele.
A auto-realização consiste em fazer de cessar os pensamentos, inclusive toda a atividade mental. Os pensamentos são como borbulhas na superfície do mar (SER).
O falso ego se relaciona com os objetos; só o Sujeito é Realidade. O mundo é o único que é percebido pelo reflexo da luz da mente. A lua brilha refletindo a luz do sol. Ao pôr do sol, a lua é útil para que os objetos possam ser vistos. De madrugada ninguém precisa de lua, embora seja visível no céu. Assim é com a mente e o Coração. A mente serve para perceber os objetos.
O intelecto é um instrumento do SER, que o usa para medir a variedade. O SER o acompanha. Como poderiam surgir as manifestações do intelecto sem as suas sementes — existindo?
PB: Onde estão localizados a memória e o esquecimento?
Ramana: No intelecto.
Pessoas como inventores buscando novo material para suas descobertas, fazem-no no estado de auto-esquecimento. Ficam em uma condição de profunda concentração intelectual. Quando o ego ressurgir do seu esquecimento, a invenção vem sendo revelada. O esquecimento também é um meio para desenvolver a intuição. Embora uma forte concentração intelectual seja útil e mesmo essencial em assuntos relacionados à matéria, a revelação ou a intuição leva tempo para surgir, e a pessoa deve por ela esperar.
A mais valiosa coisa no oceano jaz no mundo dele. A pérola é tão pequena, uma coisa de tanto valor e de tão difícil acesso! Semelhante ao SER que é como uma pérola preciosa, mas, para achá-LO, deve-se mergulhar bem fundo no silêncio, toda vez mais e mais fundo até que seja encontrado.
PB: O estado de inconsciência está perto daquele do Infinito Ser?
Ramana: Somente a Consciência existe. Quem conhece o SER, nada mais tem a fazer daí em diante, pois o Infinito Poder fará todas as demais ações que possam ser-lhe necessárias através Dele. O homem não têm mais pensamentos.
Durante a meditação, que está sendo dirigida para o SER, os pensamentos agora morrem automaticamente. A meditação pode ser dirigida aos diferentes objetos, mas quando estiver dirigida para o verdadeiro SER, significa estar fixada no mais alto objeto, ou melhor, o Sujeito.
Os pensamentos são os nossos inimigos. estando livres de pensamentos, ficamos no estado de bem-aventurança naturalmente. O vácuo entre os dois pensamentos é o nosso verdadeiro estado, este é o Real SER. Afaste os pensamentos! Esteja vazio deles, fique no estado de perpétuo pensar. Então, passará a ser conscientemente Auto-Existente. Pensamentos, desejos e todas as qualidades são alienígenas à nossa verdadeira natureza. O Ocidente pode homenagear o homem por ser grande pensador. Mas o que ele é? A verdadeira grandeza, pois, está em ficar livre de pensamentos! A verdadeira resposta à pergunta "Que sou eu" não vem em pensamentos. Pois, então, todos os pensamentos cessam — mesmo o próprio pensador desaparece.
Sejamos em nossa natureza! Assim, precisaremos buscar algo mais? Quando conhecermos a nós mesmos, os pensamentos e desejos não mais irão nos incomodar. Esse não é o nosso verdadeiro estado. Não temos de ir em busca de nossos próprios seres, e sim, simplesmente SER nós mesmos. Isto para sermos como verdadeiramente somos — livres de pensamentos e do egoísmo.
Para alcançar esta Auto-Realização, os meios são:
(a) a mente deve estar afastada de seus objetos, a percepção objetiva do mundo deve cessar;
(b) as operações internas da mente também devem terminar;
(c) assim, a mente deve se submeter e continuar a despersonalizar-se a fim de perder sua índole finalmente;
(d) deve continuar a ficar na pura auto-inquirição.
Silêncio é a fala interminável. Palavras impedem a fala silente.
Pensamentos são as predisposições acumuladas de inúmeros nascimentos anteriores. O aniquilamento deles deve tornar-se o nosso objetivo. Estar livre deles significa Pureza. O homem fica desanimado por misturar o ser consciente com o corpo inanimado; este desânimo deve cessar. O sempre-presente SER não precisa de esforços para se revelar. Mas antes o desânimo deve ser desarraigado.
PB: Então, os pensamentos não são reais?
Ramana: Isso mesmo. Quando a cânfora queima, não deixa resíduos. A mente é como a cânfora. Quando se tiver absorvido no SER, não deixará o menor vestígio do ego. É a Realização.
A mente está abarrotada de pensamentos, embora tenha sua origem na Consciência ou no SER. Os pensamentos não são reais; a única realidade é SER.
O eternamente paciente fundo (background) livre de pensamentos é o SER. A mente, em sua pureza, é SER.
O que você chama de mente é uma ilusão. Surge depois do "eu-pensamento" surgir. A mente é apenas mero feixe de pensamentos. Os pensamentos não têm sua raiz no "pensamento-eu". Você não consegue, sem os densos ou sutis sentidos, estar cônscio do corpo ou da mente. Embora possa ficar sem estes sentidos. Nesse estado, somente você pode estar adormecido ou cônscio do SER; visto que esta conscientização do SER é sempre presente. Fique como você é e as perguntas não lhe surgirão para atormentá-lo.
Isso que está além do ego é a CONSCIÊNCIA, o SER. No sono, a mente passa a ser neutra, não destruída. O que passou a ser neutro (Laya¹). Mas a mente, sendo destruída, não aparece, não pode reaparecer. O objetivo deve ser a destruição e não Laya (entorpecimento). Na paz da meditação, embora Laya possa ocorrer, não é suficiente. A destruição está no não-reconhecimento da mente como separada do SER. Mesmo agora, a mente não está. Reconheça isso!
PB: Não há nada para ser percebido dentro do Real?
Ramana: Por ter-se acostumado a identificar-se com o corpo e olhar com os olhos, você diz que nada percebe. O que há aqui para ser visto? Que é que vê? De que modo olhar? Aí há somente consciência, que, manifestando-se como "pensamento-eu", identifica-se com o corpo e, projetando-se através dos olhos, percebe os objetos circundantes. O individual está sendo limitado ao estado de vigília e espera ver alguma coisa diferente. A evidência de seus sentidos será o marco de autoridade. Mas dessa maneira o mundo não admitirá o observador; o observador e a coisa observada são manifestações da mesma Consciência ou seja "EU-EU". A meditação focada num ponto ou num som auxilia a afastar a ilusão de que o SER deve ser perceptível.
O sentimento de "eu" está presente no conhecimento. O conhecimento subtende algum resultado das impressões deixadas na consciência da pessoa.
Na verdade, aí não há nada de perceptível. Que nome você daria ao "eu" agora? Colocaria um espelho diante de si para conhecer seu próprio SER? A conscientização é "EU". Compreenda isso, pois, isto é a verdade.
PB: Deveríamos pensar que não somos o ego?
Ramana: No sono profundo não pensamos, simplesmente somos; assim, no estado de vigília também podemos viver sem pensamento — em nossa realidade — e o nosso Ser neste estado é absolutamente feliz. É o pensamento que faz o ego. Ego é apenas um pensamento que nos acompanha. Fiquemos sem pensamentos: a fonte dos pensamentos está dentro de nós, portanto, se começarmos a nos observar, descobriremos nossa real natureza. Não é pelo mero pensamento que você pode livrar-se do ego, e sim, pela vivência. Não imagine que o estado sem pensamento é semelhante ao sono profundo, transe, desmaio, etc. Não é parecido à Realização, faz apenas repelir os pensamentos. Seja você a Realidade e não perca tempo mantendo e repetindo "eu sou Brahma" milhares de vezes oralmente.
PB: Como se pode fazer para que a mente nos deixe?
Ramana: Não tente destruí-la. Pensar ou desejar é, em si, um pensamento. Quando o pensador estiver visado, os pensamentos sumirão.
PB: Desaparecerão por si próprios? Parece tão difícil.
Ramana: Vão sumir porque são irreais. A idéia da dificuldade é, em si, um obstáculo à Realização. Isto deve ser superado. Ficar como o SER, não é difícil. Esse pensar em dificuldade é o principal obstáculo. Um pouco de prática para descobrir a fonte fará com que você mude de idéia. Absolutamente livre dos pensamentos é um estado conducente ao tal reconhecimento do SER.
A mente nada é senão um feixe de pensamentos.
(...)
PB: Por que Maharshi não ajuda as massas, proferindo-lhes palestras?
Ramana: Deus não está trabalhando? Faz ele palestras? Pode o trabalho ser feito exclusivamente através de palestra? Sabe você a quantidade de trabalho que pode ser feito silenciosamente, sem nenhuma palestra?
Observa a mente. Mantenha-se distante dela. Você não é a mente; o SER permanecerá do princípio ao fim.
PB: Não há nada para ser percebido dentro do Real?
Ramana: Por ter-se acostumado a identificar-se com o corpo e olhar com os olhos, você diz que nada percebe. O que há aqui para ser visto? Que é que vê? De que modo olhar? Aí há somente consciência, que, manifestando-se como "pensamento-eu", identifica-se com o corpo e, projetando-se através dos olhos, percebe os objetos circundantes. O individual está sendo limitado ao estado de vigília e espera ver alguma coisa diferente. A evidência de seus sentidos será o marco de autoridade. Mas dessa maneira o mundo não admitirá o observador; o observador e a coisa observada são manifestações da mesma Consciência ou seja "EU-EU". A meditação focada num ponto ou num som auxilia a afastar a ilusão de que o SER deve ser perceptível.
O sentimento de "eu" está presente no conhecimento. O conhecimento subtende algum resultado das impressões deixadas na consciência da pessoa.
Na verdade, aí não há nada de perceptível. Que nome você daria ao "eu" agora? Colocaria um espelho diante de si para conhecer seu próprio SER? A conscientização é "EU". Compreenda isso, pois, isto é a verdade.
PB: Deveríamos pensar que não somos o ego?
Ramana: No sono profundo não pensamos, simplesmente somos; assim, no estado de vigília também podemos viver sem pensamento — em nossa realidade — e o nosso Ser neste estado é absolutamente feliz. É o pensamento que faz o ego. Ego é apenas um pensamento que nos acompanha. Fiquemos sem pensamentos: a fonte dos pensamentos está dentro de nós, portanto, se começarmos a nos observar, descobriremos nossa real natureza. Não é pelo mero pensamento que você pode livrar-se do ego, e sim, pela vivência. Não imagine que o estado sem pensamento é semelhante ao sono profundo, transe, desmaio, etc. Não é parecido à Realização, faz apenas repelir os pensamentos. Seja você a Realidade e não perca tempo mantendo e repetindo "eu sou Brahma" milhares de vezes oralmente.
PB: Como se pode fazer para que a mente nos deixe?
Ramana: Não tente destruí-la. Pensar ou desejar é, em si, um pensamento. Quando o pensador estiver visado, os pensamentos sumirão.
PB: Desaparecerão por si próprios? Parece tão difícil.
Ramana: Vão sumir porque são irreais. A idéia da dificuldade é, em si, um obstáculo à Realização. Isto deve ser superado. Ficar como o SER, não é difícil. Esse pensar em dificuldade é o principal obstáculo. Um pouco de prática para descobrir a fonte fará com que você mude de idéia. Absolutamente livre dos pensamentos é um estado conducente ao tal reconhecimento do SER.
A mente nada é senão um feixe de pensamentos.
(...)
PB: Por que Maharshi não ajuda as massas, proferindo-lhes palestras?
Ramana: Deus não está trabalhando? Faz ele palestras? Pode o trabalho ser feito exclusivamente através de palestra? Sabe você a quantidade de trabalho que pode ser feito silenciosamente, sem nenhuma palestra?
Observa a mente. Mantenha-se distante dela. Você não é a mente; o SER permanecerá do princípio ao fim.
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¹ LAYA -Entorpecimento / Deslizamento do estado mental através do sono, por preguiça ou fadiga na nora de buscar pela meditação completa, pelo estado de Samadhi / Um estado como de transe no qual ela mente se aquieta temporariamente / “Absorção” cuja meta é a união de consciência individual com o objeto divino da contemplação de cada um.
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Palavras de Ramana Maharshi dirigidas à Paul Brunton, extraídas do livro "IMORTALIDADE CONSCIENTE" - Paul Brunton - Editora EDC