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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

8 de março de 2012

A Realidade Suprema

A Realidade Suprema 

Este caminho da correta inquirição da Realidade é o caminho direto; todos os outros são indiretos. O primeiro leva ao SER, os outros alhures. E mesmo se os outros chegassem ao SER, seria unicamente por causa de terem, por fim, levado ao primeiro caminho, que acaba por conduzir direto ao alvo. Assim, os aspirantes, no final, devem seguir o primeiro. Por que, então, não fazer isso agora? Por que perder tempo?

Paul Brunton: Então, tudo se resume em que devo sempre olhar para dentro?

Ramana: Sim. 

PB: Deveria eu absolutamente não olhar o mundo?

Ramana: Você não está ensinado a fechar seus olhos para o mundo. Se você se considera o corpo, o mundo lhe aparece exteriormente, mas se você é o SER, o mundo lhe aparece como Brahma. 

PB: Bhagavad Guita postula que os mundos são como contas enfiadas no rosário. Por quê? 

Ramana: Krishna afirmou que eles não estão separados de MIM. As diferenças aparecem fisicamente, por isso Gita põe em ênfase a Unidade.

PB: A dificuldade fica em buscá-la. 

Ramana: Não se trata de buscá-la, sendo eterna. Se o SER tivesse que ser conquistado novamente, não seria eterno. 

PB: De que modo devo buscar o SER?

Ramana: Não se há de buscar o SER. Se o SER devesse ser buscado, significaria que Ele não está aqui e agora, mas teria que ser adquirido de novo. O que é adquirido outra vez, também poderá ser perdido. Assim, desse modo, será impermanente. O que é impermanente, não merece esforço para ser conquistado. Assim, eu digo, o SER não é para ser procurado. Você é o SER! Você já é isso! O fato é que você ignora seu estado de beatitude. A ignorância sobrevém e põe um véu em cima do puro gozo. Os esforços estão sendo dirigidos exclusivamente à remoção da ignorância. Esta ignorância é apenas o conhecimento errôneo. O errado reside na falsa identificação do SER com o corpo, a mente, etc. A falsa identidade deve desaparecer pela indagação sobre o SER, para que ESTE apareça.

Ele é além da dualidade. Estando UM, forçosamente aí será dois. Sem um, não há outros números. A verdade não é nem uma nem duas. É como ela é. 

Seja sempre ponderado e sinta dentro de si o SER Real. Seja Isso! Esteja intimamente ligado a Ele! esteja em constante inquirição, mantendo-o, até que pegue o SER e encontre a felicidade eterna. 

Paul Brunton: Como se libertar da ilusão?

Ramana: Não se preocupe com a conquista da ilusão. Fique no seu verdadeiro estado e a ilusão vai desaparecer por si própria. Se você tentar conquistar a ilusão, esta o levará a passar muitas dificuldades. 

Simplesmente seja! Se ainda tem conservado alguns estranhos pensamentos, descubra quem os tem. Mas, de qualquer modo, quer você pense que seja o Rela SER, quer não, você é sempre ISSO. Para tão simples coisa, patente como auto-realização, há tamanha dificuldade, tanta aflição e tantos Yogas! Por quê? Você é o Real SER. Como poderia ser diferente d'ISSO?

PB: Somos ignorantes. Ensine-nos o Caminho para atravessar o oceano da ilusão.

Ramana: Você disse saber que é ignorante. Deveras! Você é sabedor de tudo. E ainda diz que não sabe. Se tivermos o conhecimento de UM, saberemos de todos os inúmeros deuses. 

A consciência do SER é estado normal, enquanto que a nossa dificuldade presente é o estado anormal. Imaginamos que temos de desenvolver-nos ao estado perfeito, quando já nele estamos agora; apenas temo-lo encoberto com acréscimos de coisas externas e pensamentos. A gente fala para atingir a superconsciência. É errado. SER é a nossa consciência normal. Imaginamos que devemos nos desenvolver a fim de alcançá-la, mas estamos nela o tempo todo, somente a nossa atenção está afastada disso, voltada ao intelecto e aos objetos.

Nada que tenha de ser alcançado é Verdade, não é a Realidade. Já somos a Realidade, a Verdade.

Cheguei aqui sem saber por que; eu estava literalmente "encantado" por aqui. Mas quando alguém realiza o Observador, não há mais nada a ser visto, nem outro lugar a visitar. Observador, objeto observado e o ato de olhar, tudo isso agora mergulhou no UM — a essência de tudo. 

O estado de Realização é como uma reta da estrada preferencial. O intelecto e os sentidos são uma selva. Todos estamos conjecturando como sair da selva. Difícil se torna chegar à estrada principal, quando estamos perdidos na selva. No entanto, uma vez chegando na estrada, a caminhada é fácil e não exige esforços. E por isso afirmo que a conscientização de que somos o SER é fácil. 

PB: E quanto à criatura sentada em silêncio, meditando no SER e cujo poder é capaz de influenciar outrem, conforme o Senhor falou, estas Forças são mesmo capazes de transcender as paixões e assentar os excitados pensamentos da maioria das pessoas? 

Ramana: Sim. É o Alto Poder que transcende tudo mais. 

Não há sequencia de tempo dentro do verdadeiro desenvolvimento espiritual. Você é espiritual aqui e agora. Não se engane a si mesmo, não se deixe apanhar na armadilha mental de planos, grais de evolução, estados de ser, etc. Não se deixe afagar com esses falsos e limitados informes! Você é um SER espiritual. Seja ISSO!

Essa idéia de que você deve ENCONTRAR a si próprio é uma idéia absurda. O que há aí para se encontrar? De acordo com isto, deduzimos que haja duas pessoas — uma procurando a outra. Embora você seja o verdadeiro SER, identifica-se erroneamente com o ego e o corpo. 

Falamos em alcançar o SER, em buscar Deus com o tempo. Não há nada aí para se encontrar, pois, já somos AUTO-EXISTENTES. Nem haverá tempo algum em que possamos estar mais perto de Deus que agora. Agora e sempre somos o Bem-Aventurado, o Auto-Existente, o Infinito SER. Nossa consciência continua sendo inquebrantável e eterna. Tudo mais é ilusão, auto-hipnose que faz com que imaginemos que agora somos diferentes. Desipnotize-se! É o ego que engana a si mesmo de que haja dois seres: um de que estamos cônscios agora (a pessoa) e outro, o superior, o Divino do qual um dia nos tornaremos cônscios. É falso. Há somente um SER e é plenamente consciente agora e sempre. Para Ele não existe nem passado, nem presente, nem futuro, porque É além do Tempo.

Sem o Infinito Poder, Deus, o verdadeiro SER, esse incenso não se queimará, este mundo não existirá. Esse SER está em todas as formas. Só ele faz com que estas sejam reais. Desde então, o Homem Iluminado se encontra nos outros, por ter finalmente encontrado a Unidade, e não mais percebe a pluralidade.

O Universo existe dentro do SER. Não é apenas por isso que é Real, mas porque recebe essa realidade do SER. Chamam-no de irreal para indicar sua aparência transitória, suas transformações e formas passageiras; ao passo que chamamos o SER - Real, porque Ele é imutável.

Depois da realização, o corpo e tudo o mais não irão aparecer diferente do SER.

O conhecimento subentende algum resultado das impressões deixadas na consciência da pessoa.

Deus, o Criador — Deus Pessoa é a última das formas irreais para esvanecer, visto que só o Absoluto SER é Real. Daí em diante, não somente o mundo, não somente o ego, mas inclusive Deus Pessoal, são de irrealidade. Cabe a nós encontrar o Absoluto — nada menos.

Enquanto os homens considerarem a si mesmos como corpos, ignorando a sua verdadeira natureza como Espírito dentro deles, naturalmente cairão no erro em considerar Deus Supremo como tendo forma. A Realização cura ambos.

PB: O Absoluto conhece a si mesmo?

Ramana: O Sempre Consciente está além do conhecimento e da ignorância; sua pergunta subentende sujeito e objeto, mas o Absoluto está além de ambos. Ele é o próprio Conhecimento.

PB: Eu sustento que o corpo físico do homem imerso em Samadhi (Suprema União) como resultado de ininterrupta contemplação no SER, não precisa ficar parado por causa disso. Ele pode estar tanto ativo como inativo. Um outro homem, no entanto, afirma que as atividades físicas certamente impedem a absorção não acompanhada pela consciência do eu, quer dizer, a fusão total em Brahma (Nirvikalpa Samadhi), ou seja, a contemplação ininterrupta. Qual é a sua opinião?

Ramana: Os dois estão certo. Você refere-se ao estado em que o ego é eliminado (Sahaja Nirvikalpa). Em um caso, a mente fica menos imersa na Luz do SER; o sujeito discrimina um Samadhi do outro — emocionado, volta ao Samadhi e recomeça suas atividades costumeiras. Longe ficaram a inquietação do corpo, o deleite da força vital e da mente, a noção dos objetos e a atividade, coisas que impedem o Samadhi (estado de Suprema União). Porém, no Sahaja, a mente, estando dissolvida no SER, fica perdida. As diferenças e os impedimentos mencionados acima, em Sahaja porém não existem. As atividades de uma tal criatura são como alimentar uma criança dormindo, embora perceptível a um espectador mas não à própria criança (sujeito). O motorista que adormece ao guiar seu carro, não está consciente do movimento do carro, porque sua mente ficou mergulhada na escuridão. Igualmente em Sahaja, o buscador vitorioso permanece inciente das atividades de seu corpo, porque sua mente está morta — tendo estado dissolvida no êxtase do SER (Chitananda). 

(as duas palavras — contemplação e Samadhi — têm sido livremente usadas no assunto. A contemplação é um processo de força mental, enquanto Samadhi está sem esforço). 

SONO
1. A mente viva.
2. Submergida no esquecimento. 

NIRVIKALPA SAMADHI
1. A mente viva.
2. Submergida na Luz.
3. Como um balde amarrado à corda é jogado na água do poço.
4. Para ser puxado pela corda por outrem.


SAHAJA SAMADHI
1. A mente morta.
2. Dissolvida no Ser.
3. Como um rio a desembocar no oceano perde sua identidade.
4. O rio não pode voltar do oceano para ele de novo. 

Paz é a íntima natureza do homem. Se você a encontrar dentro de si, então a encontrará em toda a parte.

A paz que você sentiu em sua vivência espiritual temporária, é por estar ela dentro do seu SER, não foi tirada de você. Tempo virá em que teremos de rir de nossos próprios esforços para conscientizar isso; por termos percebido que o que éramos antes e seremos depois, é o mesmo. 

PB: Como fazer para livrar-se do medo?

Ramana: Todo medo nada mais é senão pensamentos. Se aí existisse somente UM, não poderia haver um segundo (quem está com medo de). Se olhássemos para o nosso SER, então não haveria o outro para ser temido. A causa do medo está em pensar que haja alguma coisa além de nós mesmos. Todavia, estando firmemente enraizados na nossa própria realidade, o medo não existirá, nem dúvida, nem tampouco qualidades indesejáveis como todas essas últimas que, estando centradas no ego, nos rodeiam. 

O estado de equanimidade é o estado de beatitude. 

A Realização já está consumada. O estado livre de pensamentos, é o real estado. Não existe ação semelhante à Realização. Há alguém que não tenha realizado o SER? Não há ninguém que negue sua existência. Então, como é que não conhecemos nosso próprio SER? São os pensamentos que se interpõem na nossa felicidade. Como sabemos que existimos? Se você responder que é por causa do mundo em volta de nós, então como sabe que você existe no sono? 

PB: Que é libertação? 

Ramana: É saber que você não nasceu. Esteja quieto e saiba que EU SOU DEUS! Estar quieto significa não pensar. Temos perdido de vista aquilo que nos mantém. Volte para dentro. Se perceber aí a fonte da mente, os pensamentos irão esvanecer-se, deixando o SER atrás.

Você torna-se consciente disso depois, contudo isso não significa que a sua natureza ficou diferente depois da meditação, mesmo agora. 

Quietude ou paz é realização. Não há um momento em que o SER não seja. Tanto quanto houver dúvida ou o sentimento de não-realização, o esforço deve ser feito com objetivo de afastar-se desses pensamentos. Pensamentos vêm por causa da identificação do SER com o não-ser. Quando o não-ser desaparece, fica somente o SER. Dar-lhes lugar é suficiente, melhor que paralisar ou remover-lhes as câimbras. 

A ausência de pensamento não significa o branco. Aí deve haver alguém que conheça o branco. Conhecimento e ignorância vêm da mente; não nascem da dualidade. Mas o SER está além do conhecimento e da ignorância. É autoluminoso. Aí não se há de olhar o SER com o outro SER. Não existem dois seres. O que é o não-ser é simplesmente o não-ser. O não-ser não pode perceber o SER.    Aí não existem visão ou audição. SER permanece além —todo UNO como pura CONSCIÊNCIA. Assim como uma mulher, que tendo um colar em volta do seu pescoço, imagina tê-lo perdido; vai à procura dele, e até que os amigos não a avisassem, estava criando sua ansiedade e, posteriormente, sua alegria, por não o ter perdido. O SER fica sempre O mesmo, quer você O procure, quer não. Outrossim, é exatamente como a mulher que sente alegria por ter recuperado o colar perdido, assim também a remoção da ignorância e o findar da falsa identificação trazem felicidade por revelarem o SER, eternamente existente. A isso chamam Realização. Mas a Realização não é nova. Ela trata de eliminar a ignorância, nada mais. A mente é má em procurar a brancura. A mente deve ser riscada da existência. Veja quem é o pensador, quem é que a busca. Sujeite-se como pensador, como quem busca. Todos os pensamentos desaparecerão. 

Esse ego se torna puro ego quando purificado de pensamentos. É igual ao SER. Enquanto a falsa identificação persistir, dúvidas persistirão também; perguntas surgirão e não haverá fim para elas. Dúvidas cessarão somente quando o não-ser também findar. Isso resultará em Realização. Não haverá então ninguém aí para duvidar ou perguntar. Todas essas dúvidas deverão estar dissolvidas de dentro. Então, nem o amontoado de palavras satisfarão. Segure o pensador; quando o pensador não se mantém quieto, os objetos aparecem e as dúvidas surgem.

PB: De que modo Deus pode ser visto? 

Ramana: Dentro. Quando a mente se volta para dentro, Deus se revela no âmago da consciência.

PB: Mas Deus não está em todos os objetos que vemos em volta?

Ramana: Deus está em tudo e também no observador. Onde Deus pode ser visto? Não pode ser visto fora. O observador deve senti-LO dentro de si. Para ver os objetos, a mente é necessária, mas perceber Deus neles é apenas mera concepção mental. Isso não é real. A consciência dentro, que purifica a mente, faz com que se a sinta como se se sentisse Deus. 

PB: Se eu sou infinito, como tornei-me finito?

Ramana: Analise suas palavras. Você começa com "eu". Primeiro conheça esse "eu". Se a pergunta depois persistir, pode ser considerada, mas não antes.

O ser está aqui e agora. Não é inédito e nem é alguma coisa para ser adquirida. é natural e permanente.

O termo "SER" se refere ao ilimitado, ao Infinito SER; não limite o sentido!

PB: Por que há sofrimento e maldade no mundo?

Ramana: Vontade de Deus.

PB: Por que?

Ramana: Inescrutável. Nenhum motivo pode ser atribuído a esse poder, nenhum desejo, nenhum objetivo pode ser asseverado a esse Onisciente, Todo-Poderoso SER. Deis, como o sol, é intocável pelas atividades que se desenrolam na Sua Presença. Se a mente fica insatisfeita ou não está de acordo com o correr dos eventos, uma boa solução seria aceitar a Vontade do Supremo como solução; portanto, sábio seria deixar o sentido de responsabilidade e o livre-arbítrio, observando a nós mesmos como instrumentos de Deus — fazer e sofrer, se assim LHE agrada. 

Shiva, Ganapati e outras Deidades como Brahma, existem do ponto de vista humano, isto é, se você considera seu ser pessoal real e existente, então, Eles também existem. Assim como um Governo que tem seus altos funcionários executivos para tomarem conta do Governo, assim também o Criador os tem; porém, do ponto de vista do Supremo Absoluto SER, todos esses deuses são ilusórios e a maioria deles deve imergir dentro de Uma Realidade. 

Paramatma e Atma são um e o mesmo SER. Se Ele não fosse eterno, deveria ter um início. O SER é eternamente Realizado. O que começa deve ter fim, e é somente transitório. Não se há de buscar uma condição temporária. O fato é que haja o estado de Paz Atenta sem esforço. Sem esforço enquanto se esteja cônscio de que esse é o estado de Beatitude. 

PB: O Senhor disse que o mesmo e mais alto Deus é ainda apenas uma idéia. Isso significa que não haja um Deus? 

Ramana: Não. Aí há um criador de todas as coisas, o Deus pessoal, o Senhor (Ishwara)

A sede de realização fica dentro, porque quem a busca não vai procurá-la como um objeto externo, de fora. Essa sede é a Felicidade e o Âmago de tudo. Por isso é chamada de Coração O único e legítimo propósito deste nascimento é voltar-se para dentro e conhecer a si mesmo. Além disso, não há mais nada a fazer

PB: Por que Krishna falou sobre a evolução?  O Bhagavan acredita na evolução? 

Ramana: A evolução deve se passar de um estado para outro. Quando as diferenças não estão sendo admitidas, como poderia ter surgido evolução? Onde está o início do Gita? Portanto, não há nascimento, nem morte, nem presente de modo como você os vê. Realidade Era, É e Será. Esta é imutável. Posteriormente, Arjuna perguntou a Krishna como podia ele ter vivido antes de Vivasvat? Então Krishna, achando que Arjuna o confundiu com o corpo dendo, lhe falou consequentemente. A instrução então era ministrada àquele que via a diversidade. Portanto, do ponto de vista do realizado, não há libertação ou escravidão para ele ou para os outros. Poderia ter havido se houvesse escravidão. Realmente, não houve escravidão, de modo que, o que segue, não é libertação. Isto não é questão de anos. Afaste tal pensamento já, neste instante. Esteja apenas no seu natural estado, quer pratique Yoga, quer não.

PB: Por que então, neste caso, todos não se realizam?

Ramana: É a mesma pergunta em outra forma. Por que você levantou esta questão? Em último caso, como você já fez esta pergunta sobre o esforço em Yoga, isso demonstra que você precisa dele. Faça isso. Mas fique sem perguntas e dúvidas; e este é o estado natural. SER não é alcançável porque você é o SER. 

O esquecimento jamais toca o SER. É a sua natureza. SER está agora confundido com o não-ser, e é isso que lhe faz falar do esquecimento.

Se a pergunta for feita quando a mente toma parte, será considerada não feita. Esse é o controle da mente. E, pelo contrário, se a mente for considerada existente e alguém procurar controlá-la disso resultará que a mente esteja controlando a mente. Seguindo o mesmo raciocínio, a mente apenas persiste, mas não engana a si mesma.

PB: Por que há imperfeição dentro da Perfeição?

Ramana: Para quem a relatividade existe? Para quem está a imperfeição? O absoluto não é imperfeito. Poderia o Absoluto dizer-lhe que Ele esteja encoberto? É a alma individual que diz que alguma coisa encobre o Absoluto

PB: Muitos termos estão sendo usados nos Livros Sagrados — Atman, Paramatman, Para etc. Qual a diferença entre eles?

Ramana: Significam o mesmo para quem os usa como palavras, embora sejam compreendidas diferentemente pelas pessoas de acordo com o desenvolvimento delas. 

PB: Mas por que usar tantas palavras para designar a mesma coisa?

Ramana: De acordo com as circunstâncias. Todas elas significam o SER. "Para" significa "não relativo", ou seja, o Absoluto. 

PB: Bhakti não envolve dualidade? 

Ramana: Bhakti e auto-realização são o mesmo. O SER para os Advaitas é Deus para os Bhaktas. Exatamente como o corpo individual compreende a alma, o ego e o corpo denso, também Deus compreende Paratma, mundo e criaturas individuais. 

Sendo o SER, por que se continua a implorar pela felicidade? Estar livre dessa súplica já, em si, é salvação. Es Escrituras dizem: "Você é ISSO". O importante desse conhecimento é o próprio objetivo delas. A realização deve implicar a descoberta do que você é e tal como esse "EU" é, ficar. Falar "Eu sou isso e não aquilo" é mera perda de tempo. Para um discípulo atento, o trabalho se processa dentro dele e não fora dele. 

Estando Tiruvannamalai, se alguém lhe perguntar o caminho até lá, é ridículo. Assim também, sendo o SER, se alguém lhe perguntar como realizá-LO, é ridículo. Fique no SER. Isso é tudo.

O "EU" é a base fundamental, cujo conhecimento faz com que todo o resto seja conhecido. 

PB: Por que há tantos deuses mencionados?

Ramana: O corpo é somente um. Todavia, quantas funções estão sendo desempenhadas por ele? A fonte de todas as funções é somente uma. O mesmo ocorre com os Deuses. 

PB: Como posso lembrar-me do meu SER real? O que o Senhor disse é para as pessoas em condição igual ao próprio Maharshi.

Ramana: Como pode você esquecê-LO? O quê? Maharshi é diferente de você? Ele não é pessoa com dois cornos. Seja o que for que aconteça com seu corpo, o SER continua do começo ao fim. 

PB: Como é o SER?

Ramana: Conheça o SER e conhecerá Deus. De todas as definições de DEUS, nenhuma é tão bem definida como o bíblico "EU SOU QUEM SOU", em Êxodo, III. Mas nenhuma é tão direta como o nome de — JEHOVA — "EU SOU". O absoluto É. ISSO é SER, DEUS

PB: Convença-me da existência de Deus. 

Ramana: A realização do SER supera qualquer tentativa de convicção. 

Para quem busca ajuda — Ei-la: Eu sou Atma: Atma é Guru, Atma também é Graça. Ninguém pode estar sem Atma. Ele está sempre em contato; nada é mais íntimo. 

O corpo não "sou eu". O corpo não pode existir sem a própria existência. Por que devíamos olhar o corpo diferente do SER? O SER não nasce, nem morre. Aí não há nada novo. Os sábios vêem todas as coisas no Ser e do SER. Aí não há diversidade. Consequentemente, não há nascimento ou morte. 

Conceder Graça não é função especial de Deus; nem tampouco há algum tempo especial ou ocasião em que Ele concede sua Graça, ou ocasiões em que Ele não a concede. 

PB: Deus é pessoal?

Ramana: Sim. Deus é sempre a primeira pessoa antes de tu. Devemos deixar todas as coisas e fazer Deus estar só, ficar antes de. 

PB: Nenhuma resposta me vem para minha busca interna. 

Ramana: A própria pessoa que busca é a resposta e não há outra resposta a ser dada. O que vem pode não ser verdade. O que É, é Verdade. 

O homem estando em sua própria natureza, não pode ajudar. Ele tem que, primeiro, conhecê-la.

PB: Como a Consciência do "EU-EU" é sentida?

Ramana: Como uma conscientização ininterrupta do "Eu". É uma simples consciência. Você é isso, mesmo agora. Aí não haverá o engano, quando pura.

PB: Pode essa Consciência proporcionar algum prazer? 

Ramana: Sua natureza é prazer. É somente prazer. Aí não há pessoa para o gozo do prazer; a pessoa que sente gozo é o próprio prazer, ambos nela mergulham. Prazer se recolhe dentro de si e segura a mente. A dor é mandada para fora. À ausência do prazer chamam dor. Nossa natureza é prazer, ou seja, beatitude. 

Não existe uma alma que não anseie pela Realização, que, embora seja posterior, está sempre presente. Nega você a si próprio? Não. Então, o SER existe! Mas é somente o ego que você busca. 

No Yoga Vasishta está escrito que o que é real está oculto de nós, mas aquilo que é falso, é revelado como sendo Verdade. Temos agora experimentado pura Realidade e, mesmo assim, não a conhecemos. Isso não é uma maravilha das maravilhas? 

PB: Como livrar-se do medo? 

Ramana: O que é medo? É apenas um pensamento. Quando nada houver além do SER, não haverá razão para ter medo. Quem vê o segundo? O ego surge primeiro e vê o objeto. Se o ego não estivesse aí, o SER somente ficaria — e não haveria segundo. A ninguém coisa alguma se exterioriza, pois, a fonte é interna. Ao encontrá-la, não existirá dúvida, nem medo, nem todos os outros pensamentos no ego centrados, rodeando-o. Eles desaparecem junto com o ego. Fraquezas e forças estão na mente. O SER está além da mente

PB: É necessário deixar os desejos mundanos? 

Ramana: Por que desejamos? Descubra? Se não encontrar a real felicidade, é porque sua mente aí estará e através das tendências subconscientes poderá tentá-lo a desejar, contudo, você não transigirá. Por que você quer uma vida livre? Pelo fato de ansiar pela liberdade, você admite estar vivendo escravizado. Mas, realmente, você é sempre livre. Conheça esse SER e deseje sumir espontaneamente. Junte todos os pensamentos, desejos e fracassos num ponto no seu íntimo: Isso é Realização. A mente tem que ficar quieta. Como o zumbido de uma abelha ruidosa em volta da flor procurando mel, cessa de zumbir logo que se tenha saciado, segue seu voo em silente quietude. Assim é com a alma do homem, procurando saciar seus desejos com verdadeiro mel. 

PB: Se alguém desejar chegar mais depressa à meta, como fazê-lo? 

Ramana: tempo é um conceito da mente. A meta sempre existe. Isso não é alguma coisa para ser novamente descoberta. O Absoluto é a nossa natureza. O problema aparece, porque você está limitando a si próprio

PB: O Senhor está certo de que seus esforços sejam bem sucedidos? 

Ramana: A Realização está em nossa altura. Não é nada novo para ser ganho. O que é novo não pode ser eterno, portanto, não há necessidade para duvidar se alguém quiser perder ou ganhar o SER.

PB: Quanto tempo será preciso para conquistar Chintamani, a gema celestial, que atende todos os desejos de quem a possui?

Ramana: O exemplo de Chintamani se encontra em "Yoga Vasishta". Chintamani significa Natureza Real do SER. A estória é a seguinte: um homem estava fazendo Tapasya (princípios e prática da austeridade e da disciplina física e espiritual para conseguir um alvo particular) para ganhar Chintami (Pedra Filosofal). Uma gema misteriosamente lhe caiu nas mãos. Estava pensando que isso não poderia ter sido Chintamani, porque seus esforços eram recentes e tão pequenos para ele ganhar uma gema dessa. Descartou essa idéia e continuou a fazer seus Tapas. Pouco depois, um Sadhu, pôs-se diante dele, tomando a forma de uma brilhante pedrinha. O homem ficou desapontado com essa aparência e achou que esta não poderia lhe preencher os desejos que almejava. Assim também o SER, sendo inerente ao homem, não poderia ser encontrado em nenhum lugar. 

PB: Como Purna Brahman pode ser alcançado? Qual é o melhor método a seguir para chegar a um Grihasta? 

Ramana: Você acabou de mencionar Purna (perfeição). Acha estar longe da perfeição? Se estiver realmente longe, será perfeição? Se não, então, como esta pergunta lhe veio? O conhecimento de que Purna Brahman e você não estão separados do mesmo, é a finalidade. Observe isso e saberá que você não é nem um Grishasta nem algum limitado ser. O conhecimento a respeito disso esclarecer-lhe-á outros assuntos automaticamente.

Quando eu era jovem tive experiência da "morte". Penetrei no SER e, desde então não "progredi" ou movi uma letra. 
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Palavras de Ramana Maharshi dirigidas à Paul Brunton, extraídas do livro "IMORTALIDADE CONSCIENTE" - Paul Brunton - Editora EDC
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