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Este blog é apenas uma voz que clama no deserto deste mundo dolorosamente atribulado; há outros e em muitos países. Sua mensagem é simples, porém sutil. É uma espécie de flecha literária lançada ao acaso, mas é guiada por mãos superiores às nossas. À você cabe saber separar o joio do trigo...

2 de março de 2012

Imortalidade Consciente - Feche os olhos e volte-se para dentro


(enxerto do capítulo III)

(...)

Paul Brunton: A solidão é necessária para um sábio?

Ramana: Uma pessoa pode estar no meio da gente mundana e manter serenidade. Uma outra pode estar sozinha numa floresta e não ser capaz de controlar sua mente, portanto, ela não pode dizer estar em solidão. Quem está apegado em algum desejo, dificilmente encontra solidão, seja onde estiver. O homem desprendido está sempre em solidão. Mesmo quem trabalha desapegado está em solidão e seu trabalho não o afeta absolutamente. O trabalho, quando executado com apego, escraviza. Solidão não se encontra somente no mato. Também pode haver no meio das ocupações mundanas...

A maior felicidade está em ser livre das aflições. As posses e sua utilização geram ansiedade; assim também com a necessidade de segurança. Ao passo que a ausência de posses não traz nenhuma aflição em seu cortejo... Despojar-se das posses é a maior felicidade.

Durante meu transe relatado em "Auto-Realização", tive muito clara experiência. Tudo de repente ficou inundado de uma luz que vinha de um lado cegando a visão do mundo ao meu redor e continuou a esparramar-se em volta de tudo; então, a visão do mundo ficou completamente apagada. Senti o musculoso órgão do meu coração parar de trabalhar. Percebi que o corpo era como o corpo de um cadáver, que a circulçação do sangue havia parado, o corpo tornou-se azulado e sem movimento... Todo o tempo senti que o Coração-Centro, à direita do peito, estava trabalhando tão bem como antes. Este estado durou uns 20 minutos. Então, de repente, alguma coisa detonou como um relâmpago, saltando da direita para a esquerda, parecendo uma explosão de foguete no ar. A circulação do sangue recomeçou e a condição normal foi restabelecida. Assim compreendi que o Coração é o Centro do corpo. Podemos senti-lo quando não sentimos o corpo, contudo, dizem ser o centro porque temos sido acostumados a pensar que sempre estamos no corpo. De fato e realmente, o corpo e tudo o mais estão neste Centro somente. Nessa experiência eu não estava, como está afirmado no livro, inconsciente; pelo contrário, era eu todo o sempre consciente. Podia sentir a ação do coração físico parar e ao mesmo tempo a ação do Coração-Centro não diminuir.

PB: Diz-se que o coração está do lado direito, esquerdo ou no centro. Com semelhante diferença de opiniões como se pode meditar em Hridaya¹(coração espiritual)?

Ramana: Você sabe o que você é! E é este fato de que Dhyana² (estado sem pensamento) tem sido praticado por você. Irá acompanhá-lo por onde você estiver. Assim, você torna-se o centro de Dhyana e isso é Coração. Um lugar, todavia, lhe é dado, e diz respeito somente ao corpo. Aonde você está? No corpo e não fora dele. Melhor ainda, no corpo todo. Ainda que você pense penetrar em todo o corpo, mesmo assim, deve admitir que é desse centro que brotam todos os seus pensamentos e é nele que desfalecem. Mesmo quando as pernas lhe fossem amputadas, ainda assim, você estaria aí; mesmo com seus sentidos deficientes, você ainda estaria aí. Assim, o Centro de Consciência absolutamente não deve ser negado. A isso chamam Coração, o que é apenas o outro nome para o SER. Surgem as dúvidas somente quando você o compara com alguma coisa tangível e física. O Coração não é um conceito, não é um objeto para meditação. E sim, é como a sede da meditação, em que somente o SER permanece.

PB: A concentração é uma das Sadhanas³? (prática espiritual)

Ramana: A concentração não significa pensar em alguma coisa, mas, principalmente, afastar todos os outros pensamentos que obstruem a revelação de nossa verdadeira Natureza. Todos os nossos esforços estão sendo dirigidos somente para levantar o véu da ignorância. Agora parece difícil dominar os pensamentos, mas, no estado regenerado achar-se-á mais difícil chamar pelos pensamentos. Por que pensamos nessas coisas? Existe somente o SER. Os pensamentos podem funcionar só quando aí houver objetos. Porém, aí não há objetos. De que modo podem surgir os pensamentos? O hábito faz com que acreditemos ser difícil cessar de pensar. Quando o erro estiver corrigido, alguém será bastante louco para se esforçar desnecessariamente?

PB: Mas a mente escapa ao nosso controle.

Ramana: Assim é. Contudo, não pense nisso. Basta lembrar-se de trazê-la de volta e virá-la para dentro. Isso será o suficiente. Ninguém chega ao êxito sem esforços. O controle da mente não vem de primeira tentativa. Os bem sucedidos são poucos eleitos que devem o sucesso à sua perseverança.

Quando Maharshi falou à pessoa muito dada aos livros, disse: "Isso que você procura aí está dentro de si". Os livros, como tais, ficam de fora. Então, por que olhar numa direção errada, lendo-os e estudando?

PB: Que união significa a palavra Yoga?

Ramana: Você é a pessoa que busca. Há alguma coisa cuja união seja procurada e da qual você está separado? Você já está cônscio do SER. Buscando-O fora,  Ele se expandirá ao infinito. Seja ISSO.

PB: Existe alguma droga que favoreça a meditação?

Ramana: Não. porque depois, quem toma drogas será incapaz de meditar sem tomá-las habitualmente.

PB: Como meditar?

Ramana: Todos precisam aprender isso: simplesmente, fechar os olhos e voltar-se para dentro.


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Palavras de Ramana Maharshi dirigidas à Paul Brunton, extraídas do livro "IMORTALIDADE CONSCIENTE" - Paul Brunton - Editora EDC


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¹ Hridaya é o nome dado ao coração espiritual, este mudra significa a abertura para o Amor incondicional, a abertura para o Amor Divino.


² Dhyana significa um estado de ser onde não há qualquer pensamento, nenhum objeto, nenhum sonho, nenhum desejo, nada – apenas vacuidade. Nessa vacuidade você chega a conhecer a si mesmo. Você descobre a verdade. Você descobre sua subjetividade. Isso é silêncio perfeito.

³ Sadhana ou Abhyasa é um termo sânscrito (em devanagari: साधनम्) e significa prática espiritual, é a prática diária do Yoga ou do tantrismo, para levar o praticante à meta do Yoga, (moksha).
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